segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Autenticidades

Num País centralizado, em que a centralização tende a produzir uma massificação cultural pouco conseguida (há massificações boas, claro está), felizmente ainda não desapareceu aquele conjunto de tiques de linguagem tão autênticos, tão pouco plásticos, que acabam por ser uma esperança para o futuro da Pátria.

Temos de conviver, é certo, com o rasca "tá-se", o maçador "então vá lá", o ainda perturbador "tás a ver", bem como uma miríade de, soit disant, frases (para não dizer "interjeições", ou mesmo "grunhidos) de origem semi-linguagem de telemóvel, semi-dragon-ballZ, polvilhadas de estupidez pura e simples. O correspondente desse "discurso" quase-lógico e mais-do-que-imbecil na roupa traduz-se no hábito do momento das calças de ganga ultra-relax, ou seja, de uma informalidade fundamentalista, em que mesmo sem qualquer movimento curvo da coluna vertebral a roupa interior pode ser vista quer que se queira, quer não se queira; em termos capilares, desagua em penteados de profusa cabeleira, que se nas mulheres resulta bem (tendência físico-química, de resto), nos rapazes/homens produz, ao tapar 98% do ângulo de visão e provocando movimentos anedóticos de sacudir de cabeça para afastar cabelos sem mover as mãos, um ar pseudo-cool e essencialmente imbecil.

No entanto, por entre essa nuvem de uma espécie de Mordor estético, surgem autênticas maravilhas de autenticidade, de que destaco:

- "oxalá";
- "continuação e oxalá";
- "antes assim", ou melhor dito "enhantes assim";
- "uma boa continuação" (se possível quando apimentado com sotaque nortenho);

E outros tantos que nos vão colorindo o dia-a-dia e que funcionam como uma espécie de rapadela virtual aos gadelhudos que o nossos sistema cultural libertário e o nosso sistema de ensino desgovernado vão produzindo.

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