quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Santana Lopes - o suspeito do costume

Santana Lopes teve, evidentementemente, gestos, actos e decisões muito infelizes.

Há quem diga que é muito gastador.

Bem compreendemos que os comentaristas nacionais se atirem a ele. Há em Portugal uma capacidade inata para poupar, o que se vê nas famílias, bem como no Estado. Alguma vez se viu um político esbanjar em Portugal? Uma obra pública não prioritária? Gastos desnecessários do Estado?

Há quem diga que tem pouco curriculum.

E todos sabemos como em Portugal se reclama do Primeiro-Ministro um curriculum vitae absolutamente eloquente, quer no plano académico, quer no plano profissional.

Há quem diga que Santana Lopes teve "tiradas" infelizes.

E, de facto, só lhe faltou dizer que a margem Sul era um deserto, ou ter projectado moradias de gosto duvidoso nas zonas montanhosas do País, fazer corninhos aos deputados dos demais partidos, ou colocar nas escolas computadores com joguinhos fúteis e erros ortográficos...

Há quem diga que no seu tempo houve alguma degradação institucional e da credibilidade da política.

Tempos que, felizmente, foram para não mais voltar.

Paulo Pedroso - já era uma saudade

Deu à costa hoje para criticar o Presidente da República.

Que saudades das suas intervenções, sempre tão oportunas e autorizadas...

A velha política

Dois bons exemplos: Ana Gomes e Vítor Ramalho.

Quanto a Ana Gomes, referiu-se hoje ao Presidente num tom absolutamente inacreditável, dizendo-se "encavacada".

Que dizer deste nível?

Mais disse que Cavaco estava desfazado da realidade.

Ana Gomes não morre de amores por presidentes, sendo não obstante a campeã da lucidez em temas presidenciais: há poucos anos acusou Sampaio de realizar o sonho da AD, ao aceitar Santana Lopes como Primeiro-Ministro (lembram-se desse momento patético?)...

Quanto a Vítor Ramalho... Não é fácil encontrar palavras.

ONU intervém em Portugal

Chega em meados de Novembro e vai ficar instalada em Alcântara.

200 capacetes azuis serão uma força de interposição de paz entre Belém e S. Bento e o mandato foi conferido por tempo indeterminado.

Além disso, os assessores presidenciais e governamentais receberão formação nas seguintes áreas:

  1. Relacionamento institucional;
  2. Redacção de comunicados oficiais;
  3. Ciência política.

Há um curso especial de "boas maneiras" para um determinado deputado do PS que teve papel preponderante no início do conflito. Até ao fecho deste post, as nossas fontes não tinham concretizado o nome do deputado.

Desvario

Em qualquer relação humana, os conflitos nunca são filhos de um só pai.

Por entre os comentários políticos, seja dos partidos, seja dos comentadores televisivos, abstraindo a infelicidade das declarações de Belém e das declarações de S. Bento, o que se percebe é que uns falam de alhos e outros de bugalhos.

O PR diz que se sentiu ofendido com a colagem ao PSD, com o ultimatum, com o Estatuto dos Açores (vergonhos, estes dois últimos).

O gabinete do PM e o ministro Silva Pereira diz que não houve escutas...

Claro que não houve escutas, mas se calhar houve ofensa.

Claro que não há vigilância, mas a crispação vinha em crescendo.

Claro que muito ficou por dizer.

No entanto, os comentaristas, sempre mais preocupados com a forma do que a substância assinalaram com exagero a falta de esclarecimento do País.

Isto é um insulto à nossa inteligência.

Qualquer pessoa minimante atenta (e acordada) ficou a perceber como é que Belém e S. Bento se tratam entre si.

No actual cenário, e sem prejuízo do relacionamento institucional que terá de existir, o fim dessa sonsice morna é o mais relevante e não tenho como claro que seja negativo.

A história mostra-nos que quando em Portugal anda tudo aos beijinhos e no elogio mútuo, o País vai ficando para trás, adormecido e anestesiado.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Declaração do Presidente

O Presidente da República não frustrou as expectativas. Manteve-se fiel ao seu estilo na declaração ao país. Foi algo de confuso, quase incompreensível, com acusações ao governo mas sem nunca identificar os seus destinatários, levantando suspeitas que não concretizou, deixando no ar mais dúvidas do que aquelas que já existiam à partida. Resumindo: parecia uma conferência de imprensa no fim de um jogo de futebol.

Mas afinal, quem eram esses elementos do partido do governo? O que quis o PR insinuar deixando no ar a dúvida sobre "como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República"? O que quer isto dizer exactamente?!Não será esta uma "acusação" demasiado grave para ficar em suspenso?!

Como é possível que venha agora por em causa a veracidade do email?! Eu próprio assisti, em directo, ao director do Público na SIC notícias a garantir a veracidade do email. Em que situação fica agora o Público, perante esta declaração? Totalmente desacreditado pelo PR, como nunca antes se tinha visto. Diz o PR "tenho algumas dúvidas quanto aos termos exactos em que possam ter sido produzidas"?!

"Mas onde está o crime de alguém, a título pessoal, se interrogar sobre a razão das declarações políticas de outrem"??!?!Um email em que é referida uma ordem dada pelo PR?!?!Será que o PR acha que é tudo otário e que isto chega!?

Declara ter dúvidas quanto à segurança das suas comunicações, e fica-se por aí?!

E o que dizer quanto à desculpa esfarrapada para a reestruturação da sua casa civil?!

E mais não disse. Como sempre, não concretizou, e agora seguir-se-á uma infindável sequência de interpretações de o PR quis dizer isto, quis dizer aquilo. Nem sei o que pensar. Resumindo:
-Nunca deu importância às suspeitas;
- Ninguém pode falar em seu nome;
- Desconfia da segurança de emails;
- Esta história toda foi um jogo político.

A maior curiosidade, claro, será ver as consequências políticas de acusar o PS de o querer colar ao PSD e de criar uma diversão relativamente à discussão dos problemas do país.

(A aguardar a reacção do PS)

Olhos e ouvidos em Belém (e não é por causa dos pastéis)

Suspense. São 19.30.

A única mensagem compreensível seria esta:

  1. Não houve escutas, nem dissemos que havia;
  2. Há desconforto institucional desde o Estatuto dos Açores - que Belém recebeu como ataque à pessoa do Presidente e que era manifestamente inconstitucional como se viu;
  3. Agravado com diversas insistências legislativas e com a presença desajeitada de funcionário de um ministério em visitas à Madeira.

Causa Deles (1)

Vital Moreira a elogiar o CDS-PP, aqui:

CDS/PP
Terceiro partido mais votado, ultrapassando o BE e o PCP, com uma notável subida em relação às eleições anteriores, foi capaz de tirar ao PSD o benefício da erosão do PS no eleitorado do centro-direita. Uma campanha inteligente e civilizada, contrastando com o desnorte e o radicalismo do PSD.


Inteligente? Civilizado?

Um piscar de olhos a Paulo Portas? Quem diria...

Pedro Silva Pereira e a síndrome de Rousseau

Anunciando dificuldades quanto ao novo figurino, Pedro Silva Pereira disse ontem a Pacheco Pereira, num debate entre os dois, que a prova que o PS tem tido razão é o resultado eleitoral do dia 27.09.2009.

Já conhecíamos o argumento, em especial em algumas experiências autárquicas do nosso País.

É o velhinho complexo de Rousseau: se é a vontade da maioria, tem de ser bom. Na altura, esta visão voluntarista e crédula na regra da maioria produziu a "ultra-democrática" Revolução Francesa, seguida do não menos democrático império napoleónico.

Para mim, vota-se para escolher, por maioria, quem nos governa e não quem tem razão.

Deixo, assim, ao Dr. Pedro Silva Pereira esse retomar anacrónico do positivismo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Luís Filipe Menezes

Derrota, derrota foi a do PSD em Vila Nova de Gaia, ao ponto de ter afectado os resultados do distrito inteiro.

A diferença PS-PSD foi de 14% contra cerca de 5% na cidade do Porto.

Se tudo se tivesse passado como em V.N. De Gaia, Sócrates teria perdido a maioria aboluta, mas com um grande resultado eleitoral.

O regresso da política

A política está de volta - ou pelo menos estão criadas as condições para a sua chegada.

Doravante, as cábulas podem continuar a existir - ai de quem se arrogasse o direito de remover moletas alheias - mas não bastam.

O trabalho volta a ter de conviver com o talento puro. Não o talento preparado, mas o talento que não se prepara.

Está instalado um tabuleiro de xadrez, no qual se joga o futuro do País e importa saber jogar, jogar no bom sentido, daquela política rejeitada pelos pragmáticos - essa raça de incapazes.

O papel do BE, da CDU e do CDS são mais fáceis do que o do PS. Ao BE, à CDU e ao CDS bastará ser coerente.

Quando o PS precisar de governar de acordo com as exigências do mundo em que vivemos e para fomentar riqueza, terá o voto do CDS (que qualquer votante CDS aplaudirá); quando precisar de folclore fracturante, terá o voto da CDU e do BE (com o que qualquer votante à esquerda do PS exultará).

Sucede que o eleitor de esquerda não perdoará ao PS cada proposta aprovada com os votos do CDS. E o eleitor de direita jamais perdoará qualquer proposta que passe com os votos da CDU e do BE.

Em termos de recuperação do eleitorado mais "doutrinário", estamos conversados, é uma espécie de "que venha o Diabo e escolha". Se Portas usar o talento que tem, vai massacrar o PS em cada tendência esquerdizante e recolher os louros por cada medida sensata.

Resta a disputa do centro político.

Aí é que falta o PSD descer à terra e à trincheira, para lutar por esse centro. Tem de mostrar determinação e ter um discurso positivo.

O PSD já demonstrou ser capaz de "apanhar" o centrão com facilidade. Mas tem de mudar de registo e, sobretudo, de vontade. Não precisa de ser voluntarista, ou de querer "transformar a sociedade" (como os tubos de ensaio em que a esquerda gosta de nos transformar). Mas tem de ter "querer", querer fazer um Portugal diferente, mais livre, menos estadual, menos centralizado, menos colado ao poder, mais descentralizado na família, nas empresas, na sociedade civil, mais municipalizado, menos burocrático, mais rigoroso, mais seguro, mais rico.

Para isso, tem de ser capaz de não ter medo de afirmar as ideias que fazem falta a Portugal.

Ana Drago lançou o tema do Código do Trabalho e sua revogação como os dos propósitos do BE. Isto mostra bem a dimensão do equívoco da esquerda: acha que o emprego se defende na lei e não na economia...

Mas o BE não é o grande culpado do "complexo de esquerda" que há em Portugal. É só o grande beneficiado. O grande culpado do "complexo de esquerda" que há em Portugal é o PSD - sempre ai! ... e coisa e tal ... e às vezes é de centro de esquerda, outras é de centro direita.. enfim, em princípio mais de centro, mas muito social-democrata ... ainda que com tendências liberais.

Mas que é isto? O País mudou muito e o País precisa do PSD.

Mas precisa muito de uma Aliança Democrática, único modelo (na versão originária) capaz de salvar Portugal. E a má experiência pessoal do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa não chega para que assim não seja.

Aviso à navegação

"O CDS, se não correr a pedir juros, pode transformar-se no partido essencial da direita. Não pode desperdiçar esses votos com a tentação de chegar ao poder a qualquer custo."

por Francisco José Viegas, aqui.

Pensamentos soltos...

No meio do mau, penso que acabou por ser um dia bom para a direita!

A grande notícia destas eleições: O PS só consegue maioria com o CDS!

A pior notícia da noite: O crescimento do BE

Preocupação futura: quem vai suceder a MFL, iremos ter o sócrates do PSD com timoneiro?

PS e Bloco não fazem maioria. CDS é essencial


"Mesmo contabilizando o número máximo possível de deputados, PS e Bloco de Esquerda não fazem maioria absoluta - 116 deputados. O PS pode ainda atingir 96 deputados e o Bloco de Esquerda 17, o que perfaz 113. Além dos deputados hoje eleitos, faltam contabilizar os quatros pelos dois círculos da emigração (Europa e Fora da Europa)." - in Expresso

Como é que é?

Terei ouvido mal, ou o José Alberto Carvalho apelidou, na RTP, as declarações de Jardim como dogmáticas?

domingo, 27 de setembro de 2009

Será este o futuro que nos espera? *



* A avaliar pelo discurso de Sócrates, que tresandou a ódio a Franscisco Louçã, é pouco provável. Mas na política, já nada me surpreende. E há caras de pau para tudo.

Louçã

A arrogância do seu discurso foi absolutamente execrável.

Comparações com 2005*

PS - perde 25 deputados
PSD - ganha 3 deputados
CDS - ganha 9 deputados
PCP - ganha 1 deputado
BE - ganha 8 deputados


Nota 1 - O denominado "centrão" perde 22 deputados
Nota 2 - Por mais paradoxal que pareça, o grande derrotado da noite é o PS
Nota 3 - Parece-me que o PSD perdeu por demérito da sua líder
Nota 4 - O grande vencedor da noite (opinião, aliás, corroborada por grande parte dos analistas políticos) é Paulo Portas e o CDS
Nota 5 - A maioria de esquerda perde 16 deputados
Nota 6 - Os novos movimentos/partidos não obtiveram representação parlamentar

* Faltam contabilizar os 4 deputados eleitos fora do país

Actualização

PS - 96 mandatos
PSD - 78 mandatos
CDS - 21 mandatos
BE - 16 mandatos
CDU - 15 mandatos

Desfez-se a dúvida: PS + BE juntos não formam maioria absoluta parlamentar.

Nos próximos anos vai ter de se fazer política a sério em Portugal.

Todas as freguesias apuradas

Parece que é definitivo:*

PS - 86 deputados
PSD - 71 deputados
CDS - 18 deputados
BE - 16 deputados
CDU - 12 deputados

* Actualização: afinal não eram definitivos. Resultados finais no post acima.

Código do Trabalho: cavalo de batalha do BE

Já está a primeira bandeira do BE no ar: revogar o Código do Trabalho. Doravante, despedimentos, só dos accionistas e administradores!

Nós que já somos o País com a mais rígida legislação laboral da OCDE queremos "aprofundar" as conquistas laborais que a esquerda tem mantido: baixa produtividade, baixos salários, empresas pouco competitivas.

O grande vencedor da noite

As boas e as más notícias

A esquerda no conjunto ganhou. Respeita-se. Será mau para o País e oxalá me engane redondamente.

Boa notícia: o partido da direita europeia, que ganha eleições na Alemanha, vale mais em Portugal do que trotskistas e leninistas, enquanto estes não concorrerem coligados.

A esta hora ainda não se sabe se PS e BE juntos formam maioria parlamentar. Não sei que diga: se sim, é uma desgraça, se não, também era uma desgraça, se o PS tivesse tido maioria absoluta também era desgraça.

Haja, no entanto, esperança. Andamos nisto desde 1143 e já passámos por momentos piores.

Over the rainbow....

Em directo a partir de dentro do hotel quartel-general do PS, enquanto se espera por José Sócrates, agitam-se bandeiras com as cores do arco-íris..

CDU + BE

Juntos vão ter cerca de 16% dos votos. Não sei se Lenine e Trotski juntos teriam conseguido esse resultado em 1917, se tivessem ido a votos nessa altura na Rússia. Um resultado invejável e original em toda a OCDE.

Resultados e José Miguel Júdice

Os resultados em Lisboa são um susto. É motivo para grandes reflexões. A nossa capital, se decidisse tudo, conseguia aprovar uma constituição marxista.

José Miguel Júdice está a fazer uma figura inacreditável na SIC. E não é pela positiva.

Questões ao PSD

Tem condições para se manter como lider do PSD?
Teremos direito a assitir, pelo menos, a um debate parlamentar entre JS e MFL?
Quem poderá substituir MFL?
Será Pedro Passos Coelho uma alternativa credível a MFL?

Parabéns CDS

Parabéns ao CDS-PP.
Será que terá mais votos do que o BE?
Só no final da noite saberemos.

Abstenção

Afinal é maior do que a de 2005. Temo que seja a última vez que me engano hoje

As motas eleitorais

Será que nos outros países, também se assiste ao momento patético-absurdo-estúpido-ridículo-anedótico da mota com dois jornalistas a acompanhar o vencedor das eleições?

Se eu ganhasse uma eleição que envolvesse motas, ia para a sede partidária de metro, só para furar o esquema.

Legislativas 2009

O dia de todas as decisões, e como não podia deixar de ser, adivinha-se dia de grande alvoroço aqui no Charuto!!!!

Primeira nota a registar: quando tudo indicava uma abstenção razoavelmente inferior às legislativas de 2005 (as 12 hrs),eis senão quando às 16 já se registava uma taxa de afluencia inferior a 2005!!!!Deixam para tarde, depois bate a preguiça e já não apetece..esperemos que só tenham ido os que querem mudança!

Depois, temos o nosso PR a vir expressar o seu orgulho por ter mantido a "absoluta isenção" que decorre das funções que ocupa. Ora, será?! Para ir por aqui, o Empalhado Silva, verdadeiro torpedo para porta-aviões do PSD, devia ter-se ficado pelo apelo ao voto.

Por último, ainda não falei com uma única pessoa que tenha participado em sondagens "à boca das urnas" e tenha indicado o partido em que realmente votou (pelos mais variados motivos), por isso partindo desta pequeníssima amostra desconsidera-se um pouquinho as sondagens que vão aparecendo e reaviva-se alguma esperança para o decorrer do dia de hoje!

Até já!!!

Jornalistas atrasam tarde de estudo de Sócrates

Votou e não tinha tempo a perder. Tem de preparar o discurso de logo, que já conta para as eleições seguintes.

Anuncia-se uma tarde de intenso trabalho preparatório.

Votando

Muita gente a votar. Arrisco, a esta hora, uma abstenção inferior à das últimas legislativas.

Na minha secção, pela primeira vez em cerca de 10 anos, havia mais duas pessoas além de mim a votar à hora a que o costumo fazer (entre as 10 e as 11 da manhã).

sábado, 26 de setembro de 2009

5 de Outubro sem discurso presidencial

Uma notícia dramática para os milhões de portugueses que anualmente festejam a implantação da República num transbordar louco (quase descontrolado) de alegria e fervor.

Os populares andarão pelas ruas, orfãos de republicana retórica, sem saber como saciar seus ouvidos não alimentados de "ética" republicana.

Esta espécie de S. João político, este autêntico Carnaval do regime, esta festa espontânea e massiva fica um pouco mais pobre.

Dia de reflexão - uma patetice Estatal

Ao contrário do direito natural, que tende para a perfeição, o direito positivo tende para a imperfeição.

Essa imperfeição, entre nós - muito cínicos, muito práfrentexes, muito fracturantes, mas também ultra-púdicos - desagua, amiúde, no disparate, ainda agravado pela nossa cultura Estatista.

O dia de reflexão está no "TOP 10".

Primeiro, porque o Estado se arroga o direito de decidir o que é melhor para o cidadão, o que é sempre execrável, réstia da maldita Revolução Francesa que depois espalhou essa demofilia por todos os sistemas totalitários.

Ora, Estado e felicidade são aquilo a que os ingleses chamam a contradiction in terms...

Essa demofilia vem de mão dada com a menorização dos portugueses, tratando-os como imbecis, que se deixam influenciar nas últimas 24 horas.

O que fica por explicar é porque é que a infuência das últimas 24 horas da campanha (ou até no dia do voto) é má, ou pior do que a da véspera.

Além disso, é um dia de designação ridícula, porque ninguém reflecte neste dia sobre a pessoa em que vai votar. Tamanho faduncho só pode mesmo brotar de uma mente completamente desligada da natureza humana (muito típico das mentalidades estatistas, aliás).

Pelo contrário, este dia é infelizmente, um convite à abstenção. Este decréscimo súbito de relevância mediática das eleições deve provocar, sem mais, 5 a 10% da abstenção do dia das eleições.

Por favor: votemos ainda assim e chamemos a este dia outra coisa qualquer, como um Sábado com um tempo magnífico - se quiserem, uma versão não Estatal da jornada que ora começa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Uma conversa real no País eleitoral real

Algures entre Lisboa e Porto, 25.09.2009, 17.15 - 18.00. Uma antecipação da reflexão e processo de amadurecimento grupal do voto.

"- Esta gaja vai levar uma banhada..." diz um moço engravatado, com pouco sotaque, enquanto liga o "PC" (não é Magalhães).

"- Ela e o Cavaco foram um espectáculo, mandaram a campanha para o camandro, diz o do lado, organizando a parafernália de fios do eixo ouvido-telemóvel-computador-Ipod (será da secreta?).

"- Não há melhor que este...",

"- Pois não. Esta merda está muito em baixo, mas f. (...) está assim em todo o lado..."

"- E o gajo é decidido, já viste, estes anos sempre a contarem coisas dele e não arredou pé";

Transitaram depois para a conversa sobre as ideias de MFL acerca da prociação e outras temáticas fracturantes em termos que em homenagem aos bons costumes, vou poupar a quem ler estas linhas.

Legislativas - último dia

Antes de amanhã termos de fazer de conta que não há eleições no Domingo, nessa patética realidade demencial do dia de reflexão, o Charuto Aceso lança daqui um insignificante, mas muito convicto apelo ao voto.

Ao contrário do que pretenderam (ou pretendem) Hitler, Mao, Trotski, Mussolini, Lenine, Estaline, Franco, Salazar, Fidel Castro, ou Hugo Chávez (isto para não sair do mundo ocidental...), a democracia parlamentar é o melhor regime.

Foi um combate difícil para a conseguir, no qual a direita radical nunca acreditou e no qual a esquerda ou não acreditou, ou teve sempre grandes equívocos e hesitações.

O rumo foi mantido em momentos sombrios, como entre 1939-1945 por homens sem equívocos, nem hesitações, como W. Churchill.

É um legado de gente civilizada contra os bárbaros de ontem e os de hoje (que são muitos).

É um legado precioso.

Nenhuma desilução desculpa a abstenção.

Portugal tem muitos problemas. Para conservadores e democratas-cristãos são problemas difíceis de engolir, porque envergonham muito e nos têm impedido de progredir e de sermos tão grandes como já fomos e como somos por natureza.

Mas há que continuar a lutar. Andamos nisto há 866 anos e com esta idade só se pode desistir de desistir.

Tarde ou cedo, havemos de ser mais livres do que libertários, fazer os direitos andar de mão dada com os deveres, acreditar e praticar o mérito e de afastar ... enfim, de afastar tudo aquilo em que o leitor está a pensar.

Lá chegaremos. De momento, há que ter esperança e continuar a trabalhar e a votar.

Como dizia Pessoa, matar o sonho é amputar a alma.

Não votar é, também, deixar de sonhar.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Reflexos da esquerda caviar




Alguém adivinha onde foi tirada esta foto? Eu ajudo: na exclusiva Alfândega do Porto.

E que distinto evento era este? Um comício do BE.

Jantar a € 30 por cabeça. Reflexos da esquerda caviar.

Rico serviço

Cá vamos nós.

Um rico serviço, é o que vamos ter no Domingo...

Um governo foi marcadamente de esquerda (é incrível que tantos tenham achado o contrário...): nacionalizou, apostou no aumento da despesa pública e no aumento da receita fiscal, apostou nas questões fracturantes até onde pôde, subscreveu um Estatuto dos Açores anti-Cavaco, anti-Presidência, manteve a lógica educativa do combate ao chumbo, que manteve intacto o rendimento mínimo garantido (sem prejuízo da mudança de nome de baptismo). Se isto não é esquerda é o quê?

Nem se fale no Código do Trabalho, pois que mesmo com ele continuamos a ter uma das legislações laborais mais rígidas de toda a OCDE.

O governo começou por controlar o déficit aumentando os impostos.

A economia, eufórica, sobre o seu PIB em 1 %....

O governo, engatatão, aumentou os impostos mais um bocadito.

A economia, atraída, responde com um novo - mas não menos emocionado - aumento de 1% do PIB...

A convergência com a UE, atrevida, nem se intrometeu, tais os olhares de repulsa que governo e economia lhe lançaram.

Vieram os escândalos todos, uns atrás dos outros, o outlet, os projectos, o canudo, o andar.

O eleitor virou a cara, incomodado.

Chegou a crise, ai de nós, que estávamos a crescer tanto, governo e economia a passear na praia, cada um segurando 1% de crescimento do PIB na mão, a ver o sol a recolher a seus aposentos e eis que chega um tsunami capitalista a ameaçar a felicidade conjugal...

E pronto, o tsunami arrasou com o crescimento, tadinho que era pequenino, mas tão giro...

Que fazer? Que alternativas?

A senhora do PSD, ai que não pode ser, que defende a procriação, quer poupar e não é de grandes promessas, nem faz comícios - onde é que já se viu tanto (e tão grave) defeito junto...

O senhor do CDS/PP, nem pensar, que horror, acabar com o rendimento mínimo garantido, não poderem entrar todos os imigrantes que quiserem e logo nós que gostamos tanto deles que os alojamos sempre com amor e carinho na cintura industrial de Lisboa, e que quer baixar os impostos, perdendo o Estado dinheiro para distribuir igualitariamente abono de família por ricos e pobres...

O Sr. Louçã, que horror, que quer acabar com os rodeos e nacionalizar bancos. Como se atreve ameaçar o monopólio nacionalizador do PS. Toda a gente sabe que só pode nacionalizar quando se tem um Ministro das Finanças simpático...

O Sr. Jerónimo de Sousa, ai que também não pode ser, porque não, onde é que já se viu, até parece que estamos num País onde nos vimos e desejamos para tirar a coisa da caminhada para a sociedade sem classes da querira Constituição...

Claro que o que gostamos é do Sr. Eng.º, sempre tão elegante, sempre tão determinado, aquilo é que é, ainda por cima a aguentar tudo isto...

Mas como somos portugueses e somos sábios, vamos tentar chegar a Domingo e ter um governo sem maioria absoluta, que se aproxime do BE para a fractura e do CDS/PP para a factura, tudo para continuar a não haver fartura...

Cenário de pesadelo? Não. Só seria pesadelo se as relações Sócrates-Cavaco fossem más.

Para mais tarde lembrar

A crer nas sondagens da Marktest de hoje (PS 40%, BE 9% CDU 8%) e a confirmarem-se resultados eleitorais deste tipo, as seguintes conclusões são legítimas:

1. A 24.09.2009, o povo português está basicamente satisfeito;
2. O povo português quer mais Estado;
3. O povo português está preocupado com as propostas fracturantes;
4. A Grande Lisboa tende a decidir referendos e eleições;
5. Uma baixa de impostos, ou a suspensão do TGV assustou mais os portugueses do que a nacionalização da banca, o fim das corridas de touros, ou a construção de uma terceira auto-estrada Lisboa-Porto;
6. Para o povo português, o desemprego combate-se nos grandes investimentos públicos e não nas PME's;
7. O rendimento mínimo é intocável;
8. Escândalos relativos à personalidade e comportamento desta ou daquela pessoa importam pouco, sendo mais relevante o "charme pessoal", ou a "determinação".

Retrato eleitoral de Portugal no início do Outono de 2009.

Segunda escolha

É simpático, excepto quando discursa em comícios.

É assim a modos que um ministro das Finanças "porreiro" e é por aí que tanto me preocupa.

E, claro, temos sempre aquela sensação inultrapassável de que é uma segunda escolha em relação a Campos e Cunha, ou, se preferirem, mais segunda, do que escolha.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

José Junqueiro

José Junqueiro faz parte do meu imaginário.

É assim como que uma personagem da Campanha Alegre de Eça de Queiroz que viajou no tempo até nós.

Hoje comparou discurso de MFL a um discurso proferido em 1928.

Eleições concluídas, José Junqueiro voltará a ser deputado.

Cavaco devia falar antes das eleições?

Claro que sim.

Porquê?

Desde logo, porque o assunto é importante e urgente. Quando estas duas realidades convivem, uma acção imediata é requerida.

Por outro lado, num embate de conjunturas, é mais importante a conjuntura da relação entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro (e das vigilâncias que entre ambos possam ser promovidas) do que a conjuntura das eleições legislativas.

Além disso, não vale a pena tentar transformar num grão de terra - a República - numa pedra preciosa - a Monarquia.

Na República, os presidentes influenciam eleições?

Claro que sim. Uns disfarçam melhor (Soares, Cavaco), outros pior (Eanes, Sampaio), mas a influência está lá, seja consciente, seja inconsciente e inevitável. Mais: na filosofia republicana, nem vejo porque haveria de ser censurável que assim sucedesse, pois que à independência e isenção da função se associam poderes e direito de opinião política.

Como soe dizer-se, não é defeito, é feitio: os Presidentes da República são políticos, são militantes de partidos (e por vezes têm longa carreira partidária) fizeram campanhas, disseram mal dos adversários, fizeram da sua vida a eleição.

Quando são eleitos presidentes nasce aquele fado castiço do "presidente de todos os portugueses", que será cantado quando tudo estiver bem e que será silenciado quando as coisas azedarem.

Numa Monarquia, teria sido o povo a fazer cair Santana Lopes - nas urnas. Numa República, foi Sampaio, Presidente, com certeza, mas socialista de sempre.

Seria rídiculo imaginar - e ainda mais exigir - que um Presidente fizesse de conta não ter como passado o passado que efectivamente é o seu.

Por isso, é anedótico que um regime que prevê que o chefe de Estado seja politicamente engagé com um dos lados se aflija tanto, qual pretensa virgem mais sonsa que púdica, com "as influências" de Belém na política.

É o mesmo que exigir que o árbitro de um jogo seja sócio com quotas pagas, ou do Porto, ou do Benfica e depois dar gritinho agudo de escândalo se o árbitro é visto a ir (naturalmente) ao estádio do seu coração.

Numa República, não desfazendo, é curta a diferença entre o Estado e o estádio.

Um chefe de Estado republicano pode arriscar: não terá de chefiar o Estado a vida toda, nem comprometer o legado deixado ao herdeiro da Coroa, a sua lógica não é da continuidade, é a da precariedade.

Por isso, sendo o assunto urgente, importante e não haver nada na República que desaconselhe que o Presidente faça política, urge fazê-la, in casu, contando o que se passou (ou não se passou).

No fundo, cada regime tem a sua lógica, e Cavaco Silva, que merece todo o respeito, pode contribuir para que a República ganhe em prestígio (sim, também a República me merece respeito, ao menos porque a República Portuguesa é Portuguesa).

Já que os portugueses fogem tanto da política, da verdadeira política, dos temas importantes e urgentes, a República podia, através do seu líder, dar o exemplo, enfrentando-a, assumindo-a.

Para um monárquico, tratar-se-ia de um momento de autenticidade do regime e de, numa situação concreta, fazer uso de umas das características que definem uma República (para o bem ou para o mal): a do chefe de Estado ter objectivamente menos constrangimentos do que um Rei.

Rui Teixeira - os problemas de avaliação

Num País onde não se avaliam os miúdos (para evitar os traumas psicológicos dos chumbos e tornar a escola num recreio de eternização da cultura rasca), avaliam-se os graúdos.

Quase sempre mal.

A única forma de garantir uma boa avaliação dos Juízes é serem Juízes designados por Juízes a avaliar Juízes. E há que convencê-los a fazerem uma avaliação rigorosa em defesa da Justiça e dos magistrados.

Difícil? É, sim senhor. Mas outros sistemas mais pretensamente "democráticos" dão no que dão...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Jerónimo de Sousa - um político sério no meio de uma crise de valores

Por estas bandas estamos a anos luz dos comunistas, como de resto estamos dos socialistas.

Nada disso impede que aqui escreva a elogiar Jerónimo de Sousa, pelas mais diversas razões.

Antes do mais, está nos antípodas do holograma: é um tratado de autenticidade.

Em segundo lugar, percebe-se que é um homem que trabalhou a vida toda - sem rodeios, sem golpes, sem chico-espertices. Posso achar (como acho) que as ideias dele são erradas, mas são as ideias erradas de um homem que trabalhou a vida toda e não as ideias postiças de quem mais não fez do que recitar ideias postiças de outrem.

Em terceiro lugar, tem uma vida para além da política, que é uma virtude imensa num político. Não se pode confiar em alguém que nada é sem a política, que não tem curriculum se de lá for retirada a política.

Em quarto lugar, porque se vê que uma vida de luta não transformou Jerónimo num homem azedo, o que é muito curioso, porque não faltam em Portugal políticos que nunca trabalharam na vida e ainda assim são quase sempre azedos.

Jerónimo de Sousa pode dar-se ao luxo de ser pouco táctico. Faz muita falta um Jerónimo ao PSD e ainda mais ao PS e também daria muito jeito até ao BE e ao CDS. Não este Jerónimo, eventualmente um mix entre Jerónimo e Garcia Pereira... Mas lá que fazia, fazia...

Faz falta porque as pessoas, lá no fundo, sabem que entre "eles" de quem se diz que "andam lá" para "se governar" também há gente boa, gente bem intencionada, gente patriota.

É preciso fazer essa gente - que existe, dentro e fora da política - emergir por entre um mar de cromos que giram nas sedes partidárias e mesmo nos corredores de alguns debates televisivos "série B", com um discurso - que eu seja perdoado - tão risível como o ar que têm e com a substância de uma casca de tremoço vazia.

Não é por acaso que as pessoas gostam e respeitam mais Jerónimo de Sousa do que outros políticos melhor sucedidos em quem votam.

É esse o salto que falta dar em Portugal: não votar em que não se respeita, mesmo que se ache que esse alguém é competente (impressão, de resto, quase sempre invariavelmente errada).

Só assim se resolve a mais importante crise que há em Portugal - e que é uma crise de valores.

Se o leitor destas linhas está perplexo com o sentido das mesmas, resta-me afirmar que sou de direita, porventura tão clara e convictamente de direita aqui na Europa como seria de esquerda nos EUA (ou antes: da direita que está à esquerda da direita norte-americana).

Mas, como bem diz o povo - quem dera que fora tão sábio a votar como é quando não está a votar... - o cu tem pouco a ver com as calças.

E no nosso panorama político, Jerónimo está definitivamente mais próximo das calças.

Exame prévio aos comentários

Reparei (reparámos) hoje que os comentários aos posts não eram publicados, porque a função "moderação de comentários" estava, por lapso, activada.

E porque aqui não se sofre, nem de asfixia democrática nem de democracia asfixiante, já foi reposta a normalidade, não carecendo, agora, os comentários de qualquer "aprovação superior" ou "exame prévio", conforme chegámos a ser acusados.

Peço, por isso, em nome de todos os meus co-bloggers, desculpa por este lapso.

domingo, 20 de setembro de 2009

Esquerda caviar, Soares e as crises

Soares apareceu na campanha, quando meu coração já palpitava de saudades...

Num dia em que me refazia das gargalhadas efusivas em torno dos investimentos dos deputados do BE nas privatizações e das muitas considerações de anos acerca da esquerda caviar tão eloquentemente confirmadas, faltava Soares a falar da crise.

É justo. O mínimo que se pode reconhecer a Soares é que, em matéria de crises, estamos a falar de um especialista. Não propriamente a resolvê-las; mas enfim, se não foi um especialista no que diz respeito à solução, foi seguramente um especialista num problema (quer em Portugal, quer em África, onde ainda são visíveis as marcas da "sua" descolonização "exemplar", aquela que Melo Antunes - com enorme dignidade e honestidade - apelidou de "tragédia").

E tinha para nos dizer que Manuela Ferreira Leite, ou era fanática, ou irresponsável, isto a respeito da comparação das crises de 2003 e esta que agora temos.

Sim, e todos sabemos como era elevada a política que Soares fazia, sem ataques políticos no mínimo discutíveis (lembram-se das presidenciais de 1986?), sem comparações forçadas, sem contradições despudoradas, sem demagocia, sem irresponsabilidades, sem pactos indiscriminados à esquerda e à direita...

Fanática? Ó Dr. Soares, nem o Dr. Louçã é fanático. Sectário? Um bocadinho? Extremista? Sim, tem dias... Mas fanático, fanático, em Portugal, só me lembro mesmo do Dr. Alfredo Barroso...

sábado, 19 de setembro de 2009

Uma hipótese razoável?

Não quis deixar de afixar um pequeno comentário a um eventual cenário de uma coligação PS-BE para formar governo, agora que parecem haver cada vez mais vozes nesse sentido (e.g. Ana Gomes).

Quando uma tal hipótese passa do imaginário para a realidade, é impossível não começar a pensar o que seria um governo BE: casas e propriedades desocupadas tomadas de assalto, expropriação e o confisco de bens obtidos por quem trabalhou muito na vida e/ou obteve sucesso por via do seu trabalho, reforço substancial da tributação de todo o património, um clima político que iria possivelmente transbordar para uma constante tensão laboral, “à mão-de-semear” para servir de veículo a exigências sindicais desmedidas à custa de um proteccionismo governamental irracional, com a subsequente asfixia das empresas e ainda um possível encerramento de multinacionais presentes no nosso país, gente a retirar fundos e investimentos à pressa para outros países (no fundo, drenar o – pouco – dinheiro que cá existe), quadros de empresas a emigrar rapidamente, com um país isolado numa Europa do séc. XXI que já não se coaduna com este tipo de coisas (imagine-se a perspectiva de um investidor inglês, alemão ou escandinavo perante um tal cenário socio-político – nem pensar) e uma explosão do desemprego.

À luz do programa do BE, talvez as vozes que proclamam a igualdade e justiça social cegas devessem começar a pensar como é que um tal governo conseguiria pôr em prática essas políticas. A resposta: uma vigilância nunca antes vista dos cidadãos e do seu respectivo património.

Um país travestido de big brother, cidadãos a denunciar concidadãos motivados pelo “superior interesse colectivo” (pois sim!), ou quem sabe mesmo expropriações efectuadas por multidões em fúria (já a confundir-se com a pilhagem)….um paraíso!!!

Concerteza um exagero, mas...


quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ranking da produtividade: a prova dos nove

Soube-se hoje que voltámos a descer no ranking da produtividade, sendo ultrapassados pela República Checa, pela Hungria e pelo Chile.

Esta triste notícia é bem demonstrativa da falta de razão que assiste àqueles que acham que o momento actual do País se resolve, na economia, com mais Estado, com mais déficit, com mais subsídios, com mais rendimentos mínimos...

E não se diga que a produtividade é baixa por causa dos baixos salários; os salários é que são baixos por ser baixa a produtividade.

Isto não é ideologia, é só a vida e a natureza das coisas.

É que com produtividade baixa, os salários serão sempre baixos. Se a produtividade for alta, os salários serão - mais cedo, ou mais tarde - mais altos.

Não vale a pena investir nas jantes, numa pintura nova, em estofos de couro, sem apostar e concentrar recursos e energias no motor...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tinha dúvidas...

Mas correu francamente bem a participação da Manuela Ferreira Leite no programa dos Gato Fedorento na SIC.
Uma surpresa que lhe pode valer mais alguns votos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

As leis acima dos legisladores

Disse Cícero: est quidem vera lex, recta ratio, naturae congruens, diffusa in omnes, constans, sempiterna.

("eis portanto uma lei verdadeira, a razão recta, conforme à natureza, presente em todos os homens, constante e sempre eterna").

Que espantosa síntese do Direito Natural...

Lídia Jorge: um espinho cravado na paciência dos demais


Antes do mais, Lídia Jorge é, com a devida vénia e todo o respeito, uma chata. É uma chata a escrever e não se poderia esperar que fosse menos chata nas suas intervenções públicas.

Por outro lado, demonstra bem que quando se é de esquerda, dois ou três bitaites bastam para se ganhar o estatuto de intelectual e se intervir nessa qualidade nas mais diversas circunstancias.

Os intelectuais de direita que o País reconhece como tal têm de ter outro curriculum, outro percurso, outras provas dadas.

A senhora - não é por mal - não diz nada de jeito. Não é uma questão de concordar ou não concordar com o que a senhora diz. Palavra de honra. Não concordo com quase nada do que diz o Dr. Louçã, mas ele tem coisas para dizer, pensou nelas, tem um projecto para o País,não é um mero reprodutor de clichés alheios. Acho apenas que está enganado em quase tudo o que diz.

Lídia Jorge até a reproduzir clichés alheios tem pouco jeito.
O mal seria apenas da senhora, se não aparecesse tanto na TV, mas enfim. Também não exageremos, nada que um comando à distância (ou um bom livro, ou um bom disco) não resolva com eficácia e (para usar a palavra da moda em S. Bento) determinação.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Asfixia democrática ou democracia asfixiante?

Não devia ser a democracia o nome e asfixiante o adjectivo?

Ou estamos a falar de um sufoco que vai votar?

sábado, 12 de setembro de 2009

Igualdade e Solidariedade: união de facto, ou ligação fortuita?

Claramente uma ligação fortuita.

Desde logo, a diferença é condição da igualdade, pois que sempre esta só existe se se tratar de forma diferente aquilo que é diferente.

Ora, o conceito de igualdade da esquerda é, na realidade, muito pouco igualitário: o milionário e o indigente pagam o mesmo por uma cirurgia no Serviço Nacional de Saúde. Se aquele pagasse alguma coisa (ainda que apenas 15 ou 20% do custo), ainda que um doente com um rendimento anual de 50.000 euros pagasse, por exemplo, 5% do custo do seu atendimento no SNS, tal desiguladade sempre serviria para o melhorar, ou ao menos para diminuir o seu peso no orçamento.

Isto de ajudar quem precisa e quem não precisa por igual agrava o déficit, é injusto e é imoral. É um vaca sagrada sem o merecer.

Mais, ser solidário com quem não precisa nem sequer é solidário, é ser parvo e essa parvoíce acontece muito em Portugal, com estas manias da universalidade e este disparate de se achar que se pode construir o homem novo e os amanhãs que cantam...

Ser solidário é ajudar muito quem precisa e só quem precisa - o que nada tem que ver com o fomento da fuga ao trabalho.

Ensinam os ingleses que quem opta pela liberdade em detrimento da igualdade tende a ser de direita (o que é verdade) e quem opta pela igualdade tende a ser de esquerda.

Mas como se viu há um senão: a igualdade pela qual as esquerdas tendem a optar é pouco livre, desnecessariamente cara e muito desigual...

Tenho pena que um tema tão importante seja tão pouco tratado na nossa política, em que um complexo de esquerda que este País ainda vive permite que a esquerda use folcloricamente as bandeiras da liberdade, da igualdade e da solidariedade como suas.

Ao fim de quatro anos da mandato, melhorámos em termos de liberdade política e económica? Não creio.

Avançámos em termos de igualdade? De modo algum.

Somos um País mais solidário? Não me parece.

Se a isso somarmos o fracasso de uma educação mais equipada, mas que não ensina e não dá autoridade aos professores; a incapacidade para prestigiar a Justiça em vez de a isolar; um ambiente de desencanto das forças de segurança; o quase desaparecimento da agricultura...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pensar positivo antes da campanha...

... recordando bons exemplos para tentar decidir bem na hora de votar.

O 2º debate da noite: Clara Ferreira Alves e Ricardo Costa

Este segundo debate não foi um debate, tais as concordâncias e a paixão de ambos pelo PS e por Sócrates (porventura com ligeiro avanço de Clara Ferreira Alves).

Mas enfim, com certeza que temos de considerar normal que um jornalista e uma intelectual deixem transparecer tão claramente os seus amores politicamente partidários.

Por muito que não partilhe os sentimentos desta dupla, parece-me positivo que cedam, nestas duas pessoas, duas ideias tão irritantes quanto falsas: a de que um jornalista é imparcial e que paira acima da política e da realidade político-partidário; a de que um intelectual é imparcial e paira acima da política e da realidade político-partidário.

Se ambos forem convidados para comentar o debate Sócrates-Ferreira Leite, quase que consigo escrever antecipadamente o que vão dizer nessa ocasião.

Vou tentar dedicar-me a esse exercício antes do debate acontecer.

Portas - Ferreira Leite

Um debate quase sem pontos negativos.

Percebeu-se a tensão habitual PSD-CDS, mas sem acrimónia e (diga-se) sem grande desconfiança mútua.

Quando assim e a tudo se soma sentido de humor do líder do PSD (que esta campanha tem demonstrado existir em Manuela Ferreira Leite) e afastamento sincero em relação ao PS (que está presente em Paulo Portas) não é difícil imaginar que estes dois políticos teriam poucos problemas de fundo em governar juntos.

Além do mais, as coligações PSD-CDS nunca falharam pelo lado do CDS e pouco falharam pelo PSD, porque há que ter em conta o impacto importante de atentados aeronáuticos e de presidentes da república "engagés"...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Daniel Oliveira

Se o Bloco de Esquerda ganhasse com maioria absoluta, seria certamente o Ministro da Administração Interna.

Arrepiante, não?

Ferreira Leite - Jerónimo de Sousa

Pura campanha, menor debate.

Ferreira Leite e Jerónimo de Sousa (sempre civilizados - já é um hábito em ambos) não eram, um para o outro, fonte de grande entusiasmo.

Dois políticos sérios. Sei que nunca votaria num deles e estou quase certo de que não votarei no outro. Mas é sempre magnífico ver que num debate com dois políticos ainda é possível encontrar 100% de pessoas sérias.

Dá-nos ânimo para o futuro e mitiga as nossas angústias com os muitos charlatães que nos rodeiam - esses que não cometem gafes, os do sorrido estudado e da frase-ideia-cassette.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Nicolau Santos ao nível de Costa Pinto:

Ontem fui injusto com Costa Pinto. Não porque tenha dito que o mesmo anseia por uma maioria absoluta do PS.

Fui injusto porque o coloquei num destaque absoluto muito exagerado.

É que Nicolau Santos deseja tanto uma maioria absoluta do PS quanto Costa Pinto.

Estão, pois, ex aequo em matéria de comentário.

Sócrates - Louçã

Um dos piores debates.

Desde logo para Louçã, que nunca esteve tão mal.

Depois para os dois: a esquerda mais urbana, mais "da moda" não discutiu uma ideia para Portugal. Nada. Zero. Nicles.

Em terceiro lugar, percebeu-se um complexo antigo: na etimologia ds debates, a direita recorre muito mais à palavra "País", ao passo que a esquerda usa e abusa da palavra "direita".

Com franqueza, isto vai de encontro a uma percepção antiga, a de que há na esquerda continental europeia um afã por destruir o que não é esquerda que acaba por suplantar tudo o mais.

Falinhas mansas, muito mansas


É o estilo do novo porta-voz do PS. Mas não nos iludamos: em conjunto com o Ministro Alberto Costa (senhor de um grande curriculum, em especial pelo seu desempenho em Macau, que deixou marcas) integrou uma equipa que deixou fraco legado na Justiça.

Quem não se lembra da campanha demagógica em tornos das férias judiciais?

Que ambiente está actualmente criado entre os Juízes e os políticos?

Com que efeitos práticos?

E que dizer da Justiça light que deixam para o futuro?

E o trabalho legislativo, pobre e iletrado?

Seria justo que esta equipa partisse.

Se não partir, continuarão a pagar os justos pelos seus pecados.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Costa Pinto - um caso sério na defesa de uma lógica partidária

Costa Pinto, comentador SIC notícias, é impressionante - há que reconhecer - na linha de defesa de um dos partidos políticos nestas vésperas eleitorais.

Sob um manto da sobriedade, a coberto das entrelinhas, entre zigue-zagues rectóricos, defende mais a maioria absoluta do PS do que muitos militantes.

Será que o faz inconscientemente? Não sei.

Está obrigado a ser imparcial? Claro que não.

Então, o que provoca este meu desabafo? Será apenas por discordar de 90 % do que diz? Ou pelo estilo tendente a disfarçar o seu (evidente) sentido de voto?

Civismo, Agricultura, Clareza

Este debate Jerónimo de Sousa - Paulo Portas foi mais uma lufada de ar fresco.

Ao fim de alguns anos habituados a estilos plásticos, estudados e mais ou menos sonsos (mais do que menos), este foi um debate entre pessoas de convicções e genuínas.

Por aqui, não há hologramas.

Por outro lado, o CDS e a CDU são, hoje, movimentos políticos capazes de falar dos temas que mais interessam aos portugueses e de fugir ao discurso do costume: expressões como "nacionalizações", ou "baixar impostos" puderam fazer a sua aparição sem os pudores ultra-vitorianos da união nacional do centro.

É verdade que também Manuela Ferreira Leite e Louçã se demarcam do centrão, mas a primeira ainda hesita e o segundo fica-se pela lógica do protesto, incapaz de construir sem destruir.

Discutiram sempre com elevação e respeito (no que outros têm, de facto, evidentes dificuldades de base) e, pasme-se, ouviu falar-se de agricultura, tema quanto ao qual há desde há muito uma conspiração e perseguição do centro esquerda.

O centro esquerda sabe que o eleitorado agrário não lhe interessa, antes preferindo concentrar-se nos grandes centros urbanos padecendo de problemas típicos de fenómenos centralizadores que geram tipos de mentalidades, tipos de necessidades, tipos de chavões.

Os debates ideológicos voltaram. Ainda bem. Já não há paciência para ouvir pragmáticos. Os pragmáticos foram os construtores do Portugal de hoje. São os reis do relativismo. E também já não há paciência para o relativismo.

O relativismo e a sua lógica de facilidade são o oposto da clareza e bem merece, quase sempre, que se diga "até aí, muito obrigado, também eu chegava".

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nem bom senso, nem sensibilidade

Este caso do Jornal Nacional da TVI parece-me, além de tudo o mais, em que nada tenho a dizer de original, uma questão de tremenda falta de senso e de sensibilidade.

Ia dizer de oportunidade, mas sem senso e sensibilidade, não pode haver oportunidade, que não é mais do que aquelas duas qualidades aplicadas ao tempo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

São cerejas parte II

Interessante, interessante seria subsidiar a remoção de caroços a pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 30 anos (para muitos fins legislativos, "os jovens").

Depois de facilitar as transições de ano no ensino, etapas antes históricas, agora convertidas numa via verde educacional gratuita, importava facilitar a rápida transição da cereja para o esófago sem perder tempo excessivo na boca.

A necessidade de remoção do caroço traduz um esforço desmesurado para os jovens, uma perda inglória de calorias.

E todos sabemos que toda a eliminação do esforço, do sacrifício, do difícil, traduz um enorme avanço civilizacional.

Claro que se estará a sobrecarregar o erário público com mais um subsídio. Mas enfim, para que serve o Estado? Será, bolas, que nada se aprendeu com esta crise?

Pense-se, enfim, no que se poupará em consultas de estomatologia e em consultas resultantes de stress de desgaste com a remoção de caroço, missão que pode facilmente ser considerada como "de precisão".

Com essa perda de tempo, está a limitar-se a liberdade dos jovens. E isso não pode acontecer, pois não?

Primeiro debate correu bem

Correu bem este debate.

As personalidades de Sócrates e de Portas vieram à tona, o que é sempre bom. Metade das máscaras ficaram no rosto, mas metade foi arrancada.

Por outro lado, foi um debate ideológico: as opções na segurança social, na educação, na política fiscal ficaram claras e as clivagens são profundas.

Este PS é um típico partido da esquerda socialista europeia: fomento da igualdade a expensas do Estado, dinamização da economia com base nos grandes investimentos públicos. O mesmo se pode dizer em temas civilizacionais.

Este CDS/PP não é um típico partido da democracia-cristã europeia, estando a meio caminho entre essa posição ideológica e do conservative britânico.

Por aqui não passou a doença do centrão, esse pai do Bloco Central e de todas as formas daquele caldo que tanto mina o progresso deste País, em que nada se muda, nada de relevante, ou de diferente se diz e todos acham "mais ou menos" a mesma coisa sobre qualquer coisa, acabando por produzir castas que pensam apenas em conservar o poder.

Tendo ambos estado bem, parece-me sinceramente que Paulo Portas esteve globalmente melhor, essencialmente porque se salvou melhor do passado do que José Sócrates do presente.

Contava até que sucedesse o contrário. Mas assim não foi.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Comemoração de 40 anos de terrorismo internacional

Mad Dog, como lhe chamou o Presidente Ronald Reagan, ou simplesmente Muammar Kadhafi, "O Coronel", decano dos líderes árabes e rei dos reis de África, nas palavras do próprio, terá celebrado ontem, em Trípoli, as comemorações do 40º aniversário da Revolução do Grande Al-Fateh.

Até aqui, nada de especial, tirando o rídiculo da pandemia de cartazes, outdoors e néones com a figura de Kadhafi espalhados pela cidade.

O pior vem a seguir, porque a vergonha e o despudor não têm limites. Luís Amado, "nosso" Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, vai assistir, em representação do Estado português (onde, infelizmente, me incluo) às ditas comemorações.

Pior. Muito pior. Em comunicado, Luís Amado teve o descaramento de dizer que, no âmbito do mesmo convite das autoridades líbias, «a Força Aérea Portuguesa participará no desfile aéreo, juntando-se a cerca de 90 aeronaves de vários países do Magrebe, África Subsariana, e Europa». Se era para dizer isto, mais valia estar calado. Se era para me envergonhar desta forma, então que não tivesse o desplante de abrir a boca.

Se o governo socialista anda a gastar dinheiro dos contribuintes portugueses nestas palhaçadas, manchando, com o sangue das vítimas do terrorismo de Kadhafi, o nome de todos os portugueses, então é tempo de o expulsar, de vez, da condução dos destinos do nosso País.

É que este beduíno, que agora é venerado pelos países europeus, jamais parou, desde que chegou ao poder do Governo libanês em 1969, através de um golpe militar que o depôs o rei Idris, de atropelar os mais elementares direitos humanos.

Acumulando, como seria de esperar, as funções de comandante-chefe das Forças Armadas e presidente do novo corpo governativo da Líbia, introduz de imediato uma política de nacionalizações, dentro do chamado socialismo islâmico. Reprimindo criminosa e violentamente os que a ele se opunham, manda fechar as bases militares norte-americanas e britânicas existentes no país e expulsa as comunidades judaicas.

É assim que Kadhafi se torna, paulatinamente, uma das personalidades mais problemáticas do nosso tempo, com sucessivos atropelos aos mais básicos e elementares princípios do Direito Internacional. Reflectindo as suas pretensões subimperialistas regionais, assume como natural a ingerência nos assuntos internos dos outros Estados, participando em vários golpes de estado fracassados no Egipto e no Sudão, como se não tivesse problemas suficientes na sua casa. Não satisfeito, impõe a participação das suas tropas na guerra civil do Chade.

Ao longo do tempo foi financiando despudoramente grupos extremistas de diversos países, que se encarregaram de desencadear desenfreadas operações de terrorismo no Ocidente, em especial contra o seu arqui-inimigo de sempre, os Estados Unidos. É neste contexto que Mad Dog aparece directamente ligado a um dos maiores atentados terroristas em território europeu, quando um avião da Pan Am explode sobre a localidade escocesa de Lockerbie (daí o nome porque é conhecido este atentado), matando 270 pessoas inocentes, a maior parte das quais americanas e britânicas. O seu nome está também ligado ao atentado numa discoteca berlinense, frequentada mormente por soldados norte-americanos. Acrescente-se ainda, por mera e pura curiosidade, que o Reino Unido cortou relações com Kadhafi em meados da década de 80, depois de uma mulher polícia britânica ter sido morta friamente a tiro, no exterior da embaixada líbia em Londres.

Pois é este mesmo senhor, protagonista de um deboche de sangue e terror irracional, que é agora tratado por "honourable" por Tony Blair, que não hesitou em apresentá-lo - ironias do destino - como "parceiro contra o Terrorismo". Foi um ministro deste mesmo senhor, um tal Mr. Shagam, que, em meados de 2004, à pergunta de um jornalista inglês - "And what about Lockerbie, do you accept responsibility?" - responde hipocritamente "We close the file".

Ficamos a saber que com um simples e criminoso "close the file", é possível a negociação com tamanho terrorista (solução, aliás, apresentada nessa altura pelo Dr.Mário Soares).

E foi com um simples "close the file" que os países europeus aceitaram participar nesta triste fantochada, comemorando, despudoradamente, 40 anos de terrorismo internacional.

Deixemo-nos de meias-palavras ou pudores politicamente correctos: não é mais legitímo continuar a fingir que se tenta estabelecer a paz, enquanto as multinacionais das armas, do petróleo, dos diamantes e afins, patrocinadas pelo Governo libanês, continuam a apostar nas guerras e no terrorismo.

Repugna-me profundamente tratar dirigentes como o Sr. Kadhafi como se fosse um legítimo e impoluto estadista, fingindo acreditar nas suas palavras vãs e ocas de arrependimento.

Urge é dizer, bem alto, ao coronel beduíno que o dinheiro não compra tudo. Que não é legítimo, nem à luz dos princípios judaico-cristãos, matriz da cultura europeia, nem à luz quaisquer outros princípios, matar centenas de pessoas e a seguir, como se uma conta de supermercado se tratasse, calar as famílias das vítimas com o pagamento de uma criminosa e suja indemnização.

Como já disse aqui, um dia, em relação a Mir-Hossein Mousavi, é preciso, isso sim e com urgência, tratá-lo como um sem escrupúlos, como um fora-a-lei internacional. Reconhecê-lo como terrorista. Tomá-lo como res non grata. Assumir, através da ONU, e sem medo, o direito à ingerência diplomática e militar. Proibi-lo de circular no mundo.

São cerejas senhor!

A mediática mandatária da juventude do PS está ainda mais mediática. Não propriamente pela densidade do discurso, pela solidez ideológica, ou pela novidade das propostas, mas pelo facto de a sua fruta ser descascada pela sua empregada (ou, para quem pretender sujeitar-se aos tiques linguísticos do politicamente correcto da capital, técnica superior de apoio às actividades domésticas em regime profissional por conta de outrem, doravante TSAADRPCO), cerejas incluídas.

Não se tem valorizado devidamente esta descoberta, que está a ser tratada na imprensa cor-de-rosa e não - como devia, na imprensa generalista (ou mesmo da especialidade - quer agrícola, quer laboral).

Bem ao invés do que uma leitura superficial pode deixar antever, podemos, outrossim, estar na presença de uma proclamação política pelo testemunho.

Que nos diz essa proclamação implícita?

Desde logo, que o PS não prescinde da clivagem social, a qual sai, por ora, ilesa das apostas fracturantes do PS.

O PS quer ser fracturante para poder disputar eleitorado com o BE, mas aqui d'El Rei que em matéria de descascar maçãs e tirar caroços às cerejas há diferenças ideológicas claras, que há que assumir desde já!

Mesmo que se diga que nessa não renúncia às mordomias se mantém a colagem à esquerda-caviar concentrada no BE, o PS está em condições de retorquir que não senhor, que mesmo aí há uma importante separação de estilo, que o BE come às escondidas, o que o PS assume: caviar e cerejas sem caroços.

E não se diga que o facto de ser de esquerda impede as mordomias, porque a esquerda pretende que todos possam ter igualdade de oportunidades no acesso às mordomias do pomar (ou outras).

Num cenário ideal, também a mandatária do PS retiraria os caroços às cerejas da sua TSAADRPCO, em mais um avanço civilizacional.

Por outro lado, tudo isto permite a recuperação do ideal fixe - para muitos aflorando mesmo o fixe náice - da campanha de Mário Soares em 1986, em que a vivência política da juventude passava em boa medida por um determinado estereótipo: chiclete na boca, o uso do "pá", o cada faz o que quer que isso é que é liberdade pá, vários jovens andando pela rua com ar divertido sem ninguém a chateá-los pá, porque são livres e não quadrados pá, tás a ver?

A curiosidade é, pois, mais do que muita e a coisa promete.

Já agora, atenta a grande preocupação do PS com a igualdade e as questões sociais, quem é o mandatário do PS para a terceira idade?

Moralismos de esquerda e da crise como resultado de um mercado libertário

Assisti à forma como João Semedo, do BE se dirigiu num debate televisivo a um deputado do CDS/PP, dizendo, entre outras coisas "tenham vergonha", isto a respeito da "crueldade social" daquele partido por determinadas restrições à atribuição ou manutenção do rendimento de reinserção (designadamente quanto aos condenados por crimes violentos).

Eis a praxis democrática do BE - "tenham vergonha". Vergonha por defenderem determinada posição política? Vergonha por não estarem com o BE?

Este estilo Albânia-anos-setenta que caracteriza o BE contém a arrogância de quem se acha iluminado e de quem, depois de anos e anos a assistir ao falhanço das realizações marxistas pelo mundo, usa, de modo conscientemente oportunista, a crise que o mundo atravessa para atacar "o mercado" - como se houvesse algum neoliberal em Portugal (em termos rigorosos, sem usar o critério do BE em que os neoliberais estão no PS e à direita do PS)...

O marxismo e "as esquerdas" (aquelas de que o BE fala) têm pouco a dar em resposta a esta crise, como tiveram pouco a dar em anteriores crises pelas quais o mundo passou.

A crise que vivemos não é uma crise do mercado, é uma crise de valores. Se a crise fosse do mercado, o Estado poderia ter um contributo interessante para a resolver. Mas não é.

Importa repensar o mercado à luz dos valores sob os quais queremos viver e a nossa ética civilizacional.

É que o grande problema é que o mercado adoptara, desde há muito, aquele tique de muitas das "esquerdas" de que a melhor receita é o relativismo e de que cada um tem a sua ética. Pois é...