quinta-feira, 25 de junho de 2009

Michael Jackson

Goste-se ou não do estilo (que é/foi único), a verdade é que música pop perdeu o seu último grande ícone. Caiu-me mal o raio desta notícia.

Tempos de bizarria

Se há temas que deviam ser "fracturantes" (citando a expressão desse grande pensador do PS e da JS, Sérgio Sousa Pinto de sua graça), esses temas são os da independência da magistratura e da transparência e liberdade da comunicação social.

A magistratura vem sendo atacada sem quartel desde há longos e bons. Pretensamente, o grande problema nacional é a Justiça. Se sim, isso deve-se essencialmente ao poder político e residualmente aos magistrados.

Dizem os políticos que os magistrados trabalham pouco. Por referência a quem? Aos políticos?

Dizem os políticos que os Juízes tinham muitas férias. Por referência a quem? Aos políticos?

Que despesas de representação têm os Juízes? Em que carros andam? Quais as facilidades que têm para faltar ao trabalho? Há falta de quorum em algum tribunal?

Não brinquem comigo. Ando pelos tribunais e bem sei que os juízes são imperfeitos, como os advogados, os funcionários e os cidadãos que lá andam.

Sucede que nenhum juiz chegou a juiz depois de trilhar uma vida de mera progressão entre concelhias e distritais, percurso e curriculum que sabemos ser o de muito boa gente que nos fala na televisão a falar na posição "corporativa" dos juízes.

É que, caros leitores, como se viu na questão da lei do financiamento dos partidos , os políticos são tão ou mais corporativos que as demais pessoas...

A magistratura e a independência da magistratura (ou das magistraturas) é um pilar da democracia e assim tal como a conhecemos, com auto-governo, com maioria de juízes no Conselho Superior da Magistratura. Quando assim não for, benzam-se, compatriotas, benzam-se...

Tirando isto, restam as cantigas de que há juízes "pidescos" e outros "arrogantes". Claro que, como soe dizer-se em ditos de grande sabedoria popular, "isto há de tudo" pelo que essa temática é pura conversa de café. Há taxistas que conduzem mal, há jogadores que não fazem um remate de jeito, há pasteleiros que põem mais 350 gramas de farinha nos croissants do que eles deviam ter, há lixeiros que deixam um papel de rebuçado por apanhar e há funcionários públicos muito arrogantes na forma como falam com as pessoas. Pois há. E tirando a relevância própria do livro de reclamações, o que é que isso interessa enquanto tema de fundo?

Depois temos a comunicação social, que não tem nada de ser independente (como por exemplo já deve suceder com as empresas de sondagem). Essa ideia da objectividade da informação é irrealista e seria assustadora uma sua consumação prática.

A ideia de um ser humano capaz de relatar o que quer que seja despojando-se de si mesmo é, aliás, uma ideia macabra, traduzindo uma frieza de sangue capaz de humilhar o réptil mais cruel e distante.

Se calhar por isso, grande parte dos jornalistas deixam, sem querer, perceber em quem votam ao fim de 3 ou 4 perguntas que fazem, ou no olhar que desnudam ao dar determinada notícia...

O que é verdadeiramente importante na segurança social é que seja transparente e livre. Claro que um jornal pode informar e ser "pró-Primeiro-Ministro"; claro que pode informar e ser "anti-Primeiro-Ministro".

O leitor mais sectário, lê o seu. O leitor menos sectário, entrega-se na dialéctica de ler um de cada. A grande maioria - fruto do hábito, ou do desinteresse - tratará de ler o jornal desportivo (que aliás só faz bem à alma, se não substitutivo dos demais).

Seria fantástico se cada órgão de comunicação social dissesse ao que vai. Nada mais faria do que portar-se como o patriota, que diz a um estrangeiro: "vou tentar descrever o meu País e vou tentar fazê-lo com toda a seriedade, mas não repares se se notar alguma simpatia"...

Seria ainda mais fantástico a importância de defender sempre, hoje e no futuro, a liberdade de todos os órgãos de comunicação social. Contra ventos e marés. Não podemos deixar que esta temática não seja "fracturante" e urgente.

O caso Watergate é um exemplo óbvio meu, não é? Deixem lá, os exemplos óbvios por alguma razão o são.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A vossa benção, meus amigos (continuação)

e do Plano Marshall, serem prova de que a terapia tem que ser de choque para acordar o morto. Mas, en passant, esquecem-se de coisas de somenos como a própria utilidade intrínseca da obra e o seu impacto ambiental.

Quando se é um leigo nestas coisas, mas, por outro lado, se está despido de preconceitos (o que, confesso, não é o meu caso), é legítimo, do ponto de vista da análise política e económica, pensar na base de presunções, se estas forem tão óbvias que até uma criança seria capaz de as compreender. E, portanto, se numa onda de lançamento de obras públicas se inclui uma auto-estrada cuja inutilidade está à vista de todos, inverte-se a presunção de interesse público da actuação geral do Governo nessa área, não no sentido de este ter de provar a utilidade das obras, tirando-as assim de uma espécie de limbo, mas sim de demonstrar que não são inúteis. A diferença é subtil, mas faz toda a diferença! Em contraponto, parece-me que tal já não sucederia se o Governo viesse criar um plano nacional (sobre os planos municipais já existentes) de reabilitação e revitalização dos centros históricos das grandes cidades, nomeadamente Lisboa e Porto. A utilidade da medida estaria à vista, bastando percorrer a Ribeira e a Baixa e imaginar toda aquela zona com os edifícios recuperados e depois voar para Praga e ver o que faz a reabilitação. No plano dos interesses em jogo, teria a virtualidade de, ao menos, ser potencialmente repartível por uma miríade de empresas e agentes económicos, contendo o clientelismo em limites aceitáveis (neste país, a que mais podemos ambicionar?).

É por isso que o Manifesto dos Economistas é tão importante: ele fere de morte o voluntarismo do Governo com a estocada da imparcialidade e autoridade dos seus autores, de que não usufruem as oposições partidárias. Estas são forças de "bloqueio" e aqueles movem-se, decerto, pelo interesse do país. Estas perseguem a meta de serem Governo (ou, tão-só, de sobreviverem) e, nesse seu caminho, lançam-se amiúde por atalhos menos recomendáveis, enquanto que aqueles parecem nada ter a lucrar individualmente com a posição assumida. Por fim, a estas falta-lhes o rigor científico, enquanto que aqueles parecem tê-lo na justa medida.

Este Manifesto é, por isso, um novo exemplo daquilo que falta em Portugal: a voz de uma opinião pública esclarecida, rigorosa, atenta, influente, desinteressada e não exposta à "mediação" do "quarto poder". Aquilo que, a par da verdadeira separação de poderes, marca a diferença entre as democracias de iure e de facto das meramente formais, como a nossa.

A vossa benção, meus amigos!

Já não podia andar na rua de tão vergado que estava com o peso da má consciência de não haver ainda contribuído para este blog, depois de convite tão solene! Não sei se má consciência por não responder ao chamamento dos meus bons e ilustres amigos ou então por me alhear do dever de missão de enfileirar pelos valores que dão a razão de ser a este blog e que nele são tão acaloradamente defendidos. É o que dá esta vida burguesa que levo, entre o trabalho e casa, cuidar da prole, um jantar aqui e uma festa ali, algum desporto, férias e pouco mais... Pouco sobra - decerto por que a alma está um tanto pequena - para o debate que vale mesmo a pena!
Juntemo-nos então à causa, não sem antes um grande BEM-HAJA aos meus caríssimos co-bloggers!

De que falar, então? O tema é recorrente, mas não encontro melhor: o desditoso destino da Pátria, nos dias que correm (as coisas não foram sempre assim: se bem me lembro, tudo ia bem entre 1498 e 1580!) . Em particular, lembrei-me de trazer aqui à colação o tema das obras públicas e do combate à crise, ou melhor, para pôr as coisas em termos tecnicamente mais rigorosos, o tema do "neo-keynesianismo à moda do tuga", que tanta prosa tem alimentado no nosso país e lá fora, mas que, como tudo, na sua versão lusa reveste uma feição muito peculiar, para não dizer picaresca.

A história já tem barbas: trata-se de, à míngua de imaginação, criatividade, rigor e, sobretudo, planeamento, da velha ladaínha da importação das "melhores práticas" ou mais propriamente, "dos melhores chavões", do intervencionismo económico a la Keynes, o que é o mesmo que dizer, das obras públicas como solução para todos os males da crise, do desemprego, das receitas das construtoras, concessionárias de auto-estradas, cimenteiras, autarcas e quejandos. Não que eu seja, por mero fanatismo ultra-liberal, avesso à aceleração de infraestruturas necessárias em tempo de crise, mas penso que quando se avança com a proposta de uma auto-estrada para gambuzinos a construir ao lado das já existentes para automóveis e para moscas, a coisa está já ao nível do hospício..., não fora a realidade crua dos interesses bem lúcidos que se movem nos bastidores deste idealismo de betão.

Os partidários destas políticas cá da nossa terra, alegam, em sua defesa, que a fórmula é a mesma que está a ser utilizada lá fora e que o próprio pacote de medidas anti-crise da UE se baseia nas obras públicas de infra-estruturas como terapêutica anticíclica. A juntar a isso está o facto de a história, nomeadamente o New Deal e o

domingo, 21 de junho de 2009

Isto para não falar...

Dizia há dias um jornalista, ao comparar, um a um, os actuais ministros do Governo com os seus antecessores, que um ex-ministro havia que era seu irmão, que por isso não se podia pronunciar, mas que esse ex-ministro, seu irmão era também melhor que quem lhe sucedeu no cargo.

Antes do mais, estamos perante o "isto para não falar..." seguido de 30 a 45 minutos de conversa acerca do tal "isto", modelo comunicacional próximo do "eu seria incapaz de dizer que o Senhor Dr. fez isto e aquilo e mais aquilo no dia tantos de tal pelas tantas horas, sem estar nesse momento a trabalhar e à vista de toda a gente".

É assim uma forma bizarra de incluir um off the record dentro de um on the record...

Mas enfim, não há dúvida que o direito ao estilo decorre de vários direitos constitucionalmente consagrados.

O pior é esta dificuldade de alguns meios nacionais de perceber que há coisas que "parecem mal". Um jornalista que comenta política a elogiar um irmão político "parece mal".

Poderia dizer-se que parece, mas não é. Mas as coisas não me parecem, nem são assim tão simples.

Eu sei que está na moda entender-se que um político (ou um jornalista) não tem de mudar nada quando se torna uma figura pública, o que regra geral se faz confundindo vida privada com vida íntima, de modo a que tudo o que faz fora das paredes do seu local de trabalho ser imediatamente reservado em termos fundamentalistas.

Mas não pode ser. Um político não tem o direito à reserva se ao fim-de-semana é visto a passear de carro e a deitar pela janela do carro um pacote leite vazio; ou se sai do seu gabinete e a primeira coisa que faz quando chega à rua é cuspir para o chão.

Do mesmo modo, as ligações familiares não são irrelevantes, porque geram uma situação de manifesto "conflito de interesses", ao menos em estado potencial: entre o interesse da informação e o interesse afectivo.

Argumente-se que um conflito potencial pode, ou não consumar-se. Mas justamente o que se passa quando há uma situação de conflito de interesses é que o agente não deve actuar em conflito potencial.

Com certeza que, por exemplo, há muitos e muitos juízes capazes de julgar bem um irmão e de manterem a sua imparcialidade. Mas entende-se - e bem - que sendo colocados nessa situação pelo acaso, dela devem sair. O simples risco torna a situação insuportável.

Por fim há ainda o aspecto estético da coisa, mas esse nem precisa de grandes comentários, ou precisa?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Garcia Pereira - muita uva e pouca parra

Há muitos anos que discordo de Garcia Pereira. Por muitas e naturais razões. Quase todas decorrentes do facto de ele ser marxista e de eu não me rever de modo algum no marxismo.

Mas isso serve aqui apenas de introdução.

Garcia Pereira é um homem que está muito à esquerda. Está à esquerda do PS, mais ao menos naquela zona onde se encontram plantados o PCP e o BE.

Ao contrário do BE e do PCP que não têm uma visão para o País, o PCTP/MRPP (graças a Garcia Pereira) tem essa visão. Garcia Pereira raramente é demagógico, ao contrário do que sucede quase sempre com o BE e algumas vezes com o PCP.

Garcia Pereira pensa pela própria cabeça e nunca diz aquilo que os outros querem ouvir. Ao contrário do BE e do PCP (mais aquele do que este) que querem ser megafone do que uma parte da população diz e quer, Garcia Pereira fala daquilo que acha correcto e com o que gostaria que as pessoas concordassem.

Garcia Pereira, sendo um comunista, teve uma participação extraordinária na Ordem dos Advogados, é capaz de elogiar Freitas do Amaral, ou de defender a linha do TGV Sines-Lisboa-Porto-Coruña-Hendaye. Não são exemplos do que está bem, ou está mal, do que merece, ou não ser elogiado. São só exemplos de quem anda a pensar nas coisas de modo descomplexado. Pode ser diferente do meu e chegar a resultado diferente (e mesmo isso nem sempre).

Porquê, então, a sua falta de êxito?

Porque ao contrário do que uns quantos deslumbrados liricamente imaginam, a vertigem do populismo sacode com a mesma facilidade e intensidade a direita e a esquerda e o BE e o PCP são muito populistas, enquanto que o PCTP/MRPP, por causa de Garcia Pereira, é um dos nossos partidos menos populistas.

Os populismos de esquerda são fenómenos tão nefastos quanto os de direita, mas gozam do beneplácito do senso comum. A tragédia que foi a Revolução Francesa ainda é apresentada como uma vitória da liberdade, o que é, no mínimo dos mínimos, discutível, em detrimento da Revolução Americana, em que uma controvérsia a esse respeito é bem mais forçada. Basta comparar o "sentido democrático" de Robespierre e Marat e compará-lo com o de Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, ou John Adams e estamos conversados...

Poderia também falar aqui do Maio de 1968 e de todo o mal que fez à Europa, mas deixo esse tema para outro dia.

Hoje queria deixar esta nota porque pasmo como é que PCP e BE têm, em conjunto, mais de 20% dos votos e o PCTP/MRPP apenas 1,5%.

O estilo pouco folclórico, mais denso, menos dado a chavões, prejudica certamente o PCTP/MRPP.

Boa parte dos seus votantes hão-de ser outros Garcias Pereiras de esquerda, ou extrema-esquerda...

Mas, insisto, o que mais o afecta é o facto de pensar pela própria cabeça. O facto de não andar à procura de ideias e movimentos originais aqui, ou ali e depois ficar a babar com o que encontra e passar a vida a atirar à cara dos outros aquilo que não pensou per se.

Isso dá a Garcia Pereira e ao PCTP/MRPP uma consistência que faz com que se dedique a causas importantes para a generalidade das pessoas, mais do que a causas de "engate eleitoral".

Jamais votaria neste partido.

Mas curiosamente, não posso deixar de sugerir vivamente aos votantes do BE e do PCP que ponderem votar em Garcia Pereira.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uma entrevista à maneira

Não há dúvidas de que o registo menos truculento é o mais perigoso. É sempre assim. Quem me conhece sabe o quanto acredito nisso (às vezes até exagerando...).



E há entrevistas que o demonstram. Uma conversa moderada, no tom, no registo e na linguagem acaba sempre por fazer com que o outro baixe a guarda e tente recolocar-se, ajustando o registo ao do interlocutor.



Pode não o fazer, é certo. Mas tem sempre uma opção a fazer: ou aposta em marcar uma diferença, saindo da entrevista um entrevistador suave e um entrevistado truculento; ou então uma conversa toda ela suave.



No primeiro caso, o entrevistado parece agressivo; no segundo parece simpático e dócil se for essa a imagem que já tem.



Quando não é esse o pressuposto e o histórico, abre-se nova chaveta: ou fala numa conjuntura que lhe é pessoalmente favorável, ou fala numa conjuntura que lhe é pessoalmente desfavorável.



No primeiro caso, esse novo registo resulta fantasticamente.

Terroristas à solta (ainda o Irão...)


Anda por aí uma praga de gente bem pensante que tem vindo a criticar, de forma severa e obtusa, as eleições no Irão. Insurgem-se, entre o mais, contra a vitória do ex e actual presidente iraniano, essa coisa abjecta e execrável chamada Mahmoud Ahmadinejad, alegando que as eleições não passaram de uma farsa. Até aqui, completamente de acordo. Não me venham é com a treta de tentar colocar num pedestal de honestidade e boas intenções, com direito a manchetes e textos profundamente comovedores, o candidato derrotado Mir-Hossein Mousavi. Dizem-no sensatamente moderado e profundamente reformador, apregoam-no motor do movimento pró-democrático do Irão, intitulam-no paladino de uma nova esperança...

Ora, toda esta história está muito mal contada desde o início. Como bem sabem, esse ícone do islamismo, Ayatollah Khomeini, resolveu dar início, nos idos de 1979 , e após 14 anos de um exílio dourado e sumptuoso em Paris, à célebre Revolução Iraniana, que esteve na origem da fuga do Xá e da instalação do dito senhor como Líder Supremo do país. Esta Revolução esteve na base do Irão tal qual o conhecemos hoje e deu origem à Constituição de 1979, carregadinha de normas absolutamente conservadoras, inspiradas nos mais reles princípios fundamentalistas islâmicos. Em Junho de 1989, Khomeini, é substituído pelo Ayatollah Ali Khamenei, que ainda hoje se mantém no seu posto, aparentemente e preocupantemente não "orgulhosamente só". É ele que, na prática, comanda tudo no país, desde as Forças Armadas, ao poder judiciário, passando pelas estações de rádio e de televisão. E é ele, pasme-se, que pode demitir o presidente a seu bel-prazer, e que controla a sua actuação da forma que bem entender.

Mais, é este mesmo Líder quem faz a triagem dos candidatos a Presidentes. Li que este ano se apresentaram quase 500. Seleccionaram-se, numa primeira fase, 4: homens, obrigatoriamente; xiitas, rigorosamente xiitas. Mas o pior é que o seu incomensurável poder não acaba por aqui, pois é ele que, em última instância, e independentemente do resultado da votação (!), escolhe o presidente do Irão, pondo fim, de uma vez por todas, à fantochada a que os iranianos se sujeitam, e com a qual se entretêm, de pensarem que estão a eleger quem quer que seja para os governar. Ou seja, democracia, no Irão, é vê-la por um canudo. O país é, de facto, uma teocracia nas mãos conspurcadas deste super-poderoso Líder Supremo.

Ora, depois deste palavreado todo, quem é, afinal, esse moderado e reformador, esse motor do movimento pró-democrático do Irão, esse paladino da esperança, Mir-Hossein Mousavi?

Este senhor, que deve inteiramente a sua ascensão política no Irão aos métodos tirânicos que agora parece crer esconder, comprometeu-se, aquando da eleição para primeiro-ministro, cargo em que permaneceu até 1989, data em que o cargo se extinguiu, a "expandir o papel do Teerão no mundo" e a "exportar a sua revolução islâmica".

Esta homem defendeu a ferro e fogo, no jornal do Partido Republicano, a não libertação de reféns americanos, capturados por militantes radicais iranianos, de modo a cumprirem-se os propósitos da imparável Revolução Iraniana. E teve o descaramento de admitir ao New York Times que foi depois deste acto verdadeiramente terrorista que os iranianos descobriram a sua verdadeira identidade islâmica.

Este homem esteve, além disso, envolvido no atentado terrorista ao centro cultural judaico de Buenos Aires, no qual morreram 85 pessoas.

E honra lhe seja feita, nas suas intenções de "exportar a sua revolução islâmica", Mousavi não ousou desiludir! Durante o seu mandato, o Irão fundou o Hezbollah, esse abominável grupo terrorista xiita, radicado no sul do Líbano e com células profundamente activas e espalhadas por todo o mundo. Mais: o governo liderado por Mousavi desempenhou um papel central e importantíssimo no planeamento das violentas manifestações em Meca, em 1987, onde mais de 400 fiéis morreram, procurando activistas iranianos para desestabilizar o regime saudita, fundamentalmente sunita, e recrutar militantes muçulmanos fiéis à sua causa. Além disso, em praticamente todas as grandes questão de discórdia entre os EUA e Irão, Mousavi assumiu, propositadamente, uma postura altamente desafiadora, em busca constante de confrontos. Não satisfeito, Mousavi criou, ainda, o programa iraniano de produção de armas químicas.

20 anos volvidos, Mousavi parece continuar com os mesmos ideais: jurou não recuar nos propósitos do Irão de produzir armas nucleares e o seu biógrafo político afirmou que Mousavi iria continuar, ainda que fosse eleito, a apoiar o Hamas e o Hezbollah.

E é este homem, que esconde por trás de uma máscara suja, uma vergonhosa história de fanatismo religioso, de apoio despudorado ao terrorismo, e de apoio incondicional ao autoritarismo, que a comunidade internacional apelida hoje de moderado e reformador, de motor do movimento pró-democrático do Irão, de paladino da esperança.

Deixemo-nos de meias-palavras ou pudores politicamente correctos: o que se passa neste tipo de Estados é verdadeiramente vergonhoso. Ou o mundo civilizado (sem medo da expressão), seja ele branco, negro, vermelho, amarelo ou às pintinhas cor-de-rosa quer pôr fim a este tipo de atropelos aos mais elementares Direitos Humanos e ir verdadeiramente ao fundo da questão ou não quer. Impressiona-me e envergonha-me profundamente tratar este tipo de abjectos humanos, como é o senhor Mousavi, como se fossem legítimos candidatos ao que quer que seja, fingindo acreditar nas suas palavras vãs e ocas de arrependimento, que tentam abafar um passado vergonhoso.

É preciso, isso sim e com urgência, tratá-lo a ele e a todos os da sua corja como uns sem escrupúlos, como uns fora-a-lei internacionais. Reconhecê-los como terroristas. Tomá-los como res non grata. Assumir, através da ONU, e sem medo, o direito à ingerência diplomática e militar nestes Estados. E proibi-los, a todos, de circularem e se pavonearem no mundo.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Os EUA e as lições

Concordo com o meu co-blogger João Duarte no comentário que faz, em título, a uma (entre milhares) brilhante afirmação de W. Churchill.

Por isso, não vou aqui iniciar uma polémica, mas uma reflexão.

Por muito que o consulado Bush haja sido um desastre - como efectivamente foi - nos planos externo e interno, é nele e não nos EUA que a crítica se deve, a meu ver, situar.

Na verdade, os EUA têm sido, em muitas situações, para o mundo em geral e para a Europa em especial uma espécie de abono de família.

Quem teve de vir resolver a I Grande Guerra na qual os europeus se atolaram (sem esquecer o contributo patético e desastroso da nossa anedótica 1ª República)?

Quem nos livrou no Nacional-Socialismo? Quem nos salvou do Estalinismo?

Quem ajudou a que Portugal, em 1975, não se tornasse uma Albânia à beira mar plantada?

Quem tem possibilidade de gerir os temas "Irão" e "Coreia do Norte"?

Claro está que a história também aponta erros - em alguns casos muito graves - dos EUA. Isso é uma evidência.

Na minha modesta opinião, é igualmente evidente que a Europa, globalmente considerada, comete mais erros e erros mais graves do que os EUA.

Com uma agravante: é que quando a Europa erra com muita gravidade, os EUA entram em cena para resolver a asneira (lembram-se da guerra Sérvia-Bósnia?) e o contrário não sucede...

Os Europeus têm dificuldade em encontrar um equilíbrio entre uma postura internacional "tipo Europa" e uma postura internacional "tipo Bush" para chegar a uma postura de política internacional "tipo Clinton", que não anda a meu ver muito distante da que me parece a mais correcta.

Claro que a política Clinton teve momentos como o da Somália, ou seja, desastrosos. Mas aí, é a Somália que é um desastre em si mesmo (com raízes, aliás, em uma ou outra asneira europeia).

Mas desastre, desastre é aquele pensamento de uma certa europa de que para não se ser Bush, se tem de ser Chamberlain.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A lição que os EUA (e o seu ex-presidente em particular) deveriam ter aprendido...

"Never, never, never believe any war will be smooth and easy, or that anyone who embarks on the strange voyage can measure the tides and the hurricanes he will encounter. The statesman who yields to war fever must realize that once the signal is given, he is no longer the master of policy but the slave of unforeseeable and uncontrollable events."

Sir Winston Churchill

Jorge Jesus

Fiquei surpreendido ao descobrir que algumas expressões que eu pensava emanarem do imaginário popular foram afinal criação do futuro treinador do SLB. Outras foram só uma alegre surpresa. Aqui ficam alguns "dizeres" de Jorge Jesus em conferências de imprensa, para vosso deleite:
"Já fiz aqui jogos (em Braga) com mais de 35 mil pessoas a aplaudir!" - A lotação do estádio não excede os 30 mil lugares.
"Os pinos efervescentes"
"Isso são questões do forno interno do clube"
"Bode respiratório"
"Lesão no calcanhar de Aquiles"
"Couro de assobios"
"O cherne da questão"
"Embebida no espírito da vitória"
"Sinto-me como a Paula Rego do futebol"
"São os meus capitões de equipa"

Promete...

Restaurante Carvalho

Uma maravilha em Chaves!!!
Morada: Largo das Caldas Chaves
5400-523 - Chaves
Tlf. 276 321 727

Bem vistas as coisas...

Se um Cissokho vale € 15M, talvez € 100M por um C. Ronaldo não seja assim tanto!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A vantagem de existir democracia em Moledo

Ainda esses "dias atlânticos"...

Há uns anos, a minha sobrinha Maria Luísa ficou chocada quando lhe expliquei, orgulhoso e inconsciente, que Moledo – onde vivo há cerca de vinte anos – era um dos lugares menos democráticos do país. Essa revelação impopular deixou-a consternada.
Maria Luísa, que era então a eleitora mais esquerdista da família, suspirou e culpou o retrato do Senhor Dom Miguel, uma das glórias da família (guardado, como o leitor sabe, no casarão de Ponte de Lima), pela sobrevivência de reaccionários a norte do Zêzere e até à fronteira de Valença ou ao Cantábrico. Ora, o príncipe proscrito não tem a ver com o assunto; a democracia é uma novidade na história humana e nem todas as sociedades se regem pelos seus maravilhosos princípios. Ou seja, ainda: o destino final da humanidade não é viver em democracia mas, como repetia o velho Doutor Homem, meu pai, ir sobrevivendo às novidades que prometem a nossa felicidade.
Felizmente que existe democracia – e, por extensão, praias muito mais democráticas. A praia de Moledo tem água fria; o vento do crepúsculo é cortante durante a Primavera e áspero no resto do tempo (tirando seis ou sete tardes de Verão); a ondulação do seu mar, longe de ser amena e acolhedora – como nos bilhetes postais dos trópicos –, é agreste e cai com violência na derradeira rampa de areia; durante a maior parte das manhãs da ‘época balnear’, há uma suavíssima neblina (ou ‘nevoeiro implacável’, segundo os meus sobrinhos) que, beneficiando os entusiastas de paisagens, afasta os que desejam bronzear-se. Esta conjugação de factores bastaria para barrar os portões de Moledo aos veraneantes; mas, ainda assim, há gente que resiste. Ou seja, há quem não se importe de trocar o Algarve tépido, sensualista e mediterrânico pelo clima levemente invernal das manhãs do Verão de Moledo. Há, finalmente, quem não se reuna sob o pavilhão do Grande Verão do sul, quente e democrático, e mantenha o hábito de continuar a enregelar nas praias de Moledo.
Ora, quem é essa gente que bravamente se recusa a juntar-se à multidão? Meia dúzia de amotinados contra a democracia. A democracia impõe a lei da maioria (e nada escrito exige que respeitem as minorias, à parte alguma misericórdia) e a maioria prefere entregar-se aos prazeres dos trópicos ou das praias da moda. Pois se é assim, Moledo é uma praia pouco democrática. Não tem nada do que a maioria das pessoas quer. Cheira a pinhal e a sargaço, ao nevoeiro da Galiza e a bronzeadores antigos. É uma velharia.
Espero, com isto, ter afastado alguns visitantes. Ai de mim, que ainda penso influenciar leitores.

por António Sousa Homem, in Domingo - Correio da Manhã - 19 Abril 2009

Os tais magníficos "dias atlânticos"...


... de que falavam os BAN.
Quando está calor e há vento, mas sem nortada. Quando o Porto atira cá para fora todas as cores que tem, mas que às vezes esconde no seu recato.
Quando as praias do Norte se enchem de gente com vontade de que o cheiro do mar a inunde.
Para todos (incluindo co-autores deste blogue) que estão por estas horas (e nas do fim-de-semana) nas doces paragens de Caminha, de Moledo, de Esposende, de Ofir, de Vila do Conde, da Foz, de Cortegaça, de Esmoriz, da Barra, da Vagueira, da Torreira, ou de Mira (entre tantas outras).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

BE: sonho de uma noite de verão

Há que reconhecer que o BE passa uns dias felizes. A ultrapassagem ao PCP parece uma corrida entre o Estalinismo e o Trotskismo, ou, se se preferir, entre a antiga URSS e a antiga Albânia. Com a antiga Albânia a ganhar.

As hipóteses de ser governo mantêm-se nulas (o que convém ao BE), mas a representação vai crescendo e pode chegar, a meu ver, aos 15% num ou outro momento mais propício.

O seu ideário populista no estilo e demagógico no conteúdo, de dizer sempre às pessoas dos grandes centros urbanos o que elas querem ouvir só pode ser coroado de êxito.

O BE é aquele tio que deixa os sobrinhos fazer tudo, que nunca lhes ralha e que quando chegam os pais, se põe do lado das crianças.

Por isso mesmo, está condenado a durar mais do que o PRD, que era aquele tio chato que só queria ajustar contas com um outro tio (o PS).

Como vai reagir o PS? Atacar à direita e perder mais votos à esquerda, ou atacar à esquerda (insistindo ainda mais nas chamadas - segundo uma designação patética - "questões fracturantes", enquanto estas não se esgotarem) e perder o centro?

Sentido de voto ou sentido ao voto?

Na ressaca das eleições europeias, olhando além dos discursos emotivos e das subidas e descidas, o grande “vencedor” foi, invariavelmente, o de sempre: a abstenção. A expressividade dos seus números é sintomática do desânimo generalizado e sobretudo indiferença da maioria do eleitorado. É talvez o elemento mais revelador, mas já nem é notícia, sendo dissimulado no habitual frenesim da comunicação social.

De todos os balanços feitos e análises políticas, faltou a constatação do óbvio: a maioria da população está-se nas tintas para a política e para os políticos. A elevada abstenção é reveladora gritante falta de confiança na classe política em geral ou, por outras palavras, falta de convicção de que o voto fará ou poderá fazer alguma diferença nos seus destinos, de tal forma que justifique tirar o traseiro do sofá e ir votar a um domingo. Que chatice.

Mas será que a preguiça ou outras ocupações ao domingo justificam tudo? Alguém imagina que em Portugal fosse possível as pessoas ficarem horas à espera em filas para exercer o seu direito cívico, como se viu, por exemplo, nas últimas eleições presidenciais norte-americanas (ainda que estivessem em causa, por exemplo, umas eleições legislativas)?
Ou será que, por outro lado, a falta de sentido de Estado e sentido de missão da classe política e políticos portugueses em geral continuam a estar muito longe de inspirar as pessoas?

Compreende-se que não se possa esperar um exercício generalizado do direito de voto quando talvez a maioria das pessoas não consegue de facto identificar qualquer conteúdo programático de relevo ou qualquer substância que lhes permita distinguir entre uns e outros. As décadas de “dança das cadeiras” levada a cabo pelo bloco central não ajudam de certeza. Somos uma nação “no meio” por falta de melhor discernimento, talvez.

Partindo da premissa (regularmente demonstrada) de que a filiação ou preferência partidária não é exactamente como ser adepto de um determinado clube de futebol, que é para muitos uma realidade mutável, foi algum dos partidos indubitavelmente claro relativamente àquilo que pretende alcançar, aos objectivos pelos quais se vai bater?
A resposta é dada, mais uma vez, pela indiferença.

Resta para muitos o “voto de hábito”, potencialmente anacrónico, consequência de uma opção de filiação ou preferência partidária tomada algures nos tempos (em outros contextos e com outros intervenientes), e exercido independentemente do que quer que esteja em causa, ou ainda o voto como expressão de descontentamento: “Não sei o que quero, mas sei que não quero isto!”….

Viva Portugal

"Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde o Febo repousa no Oceano
(...)
Esta é a ditosa pátria minha amada
À qual se o Céu me dá, que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada
(...)"

Luís de Camões

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um Real veto

Este veto presidencial à lei do financiamento dos partidos foi de tal forma justo e oportuno que este meu País me pareceu hoje, por instantes, uma monarquia e não arranjo melhor elogio para endereçar a Cavaco Silva.

Está visto que nem só de críticas vive a minha relação com o País...

Esta lei é uma daquelas coisas que não podem acontecer, que não se compreendem, muito menos se conseguem explicar. E que nem merecem que se tente. Merecem apenas um veto. Uns, da forma que sabemos, votaram a lei. O Chefe de Estado vetou-a.

Pão, pão, queijo, queijo.

Tertúlias jugulares

Fernanda Câncio escreveu o seguinte, no seu blogue Jugular:

a coisa de saramago
f.
josé saramago escreveu esta
coisa para o el pais. e pelos vistos acha-a tão admirável que a republica no dn.

berlusconi está, do meu ponto de vista, longe de ser um político admirável ou até uma pessoa recomendável. mas confundir juízos políticos ou éticos baseados em atitudes públicas e com relevo e interesse público com frases como 'uma coisa que dá festas, organiza orgias' ou 'acompanhante de menores' e ainda por cima fazê-lo em nome de 'valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi' é provar absoluto desconhecimento dos valores citados. ou, para usar um termo caro a saramago, delinquir. contra a liberdade, a dignidade e a ética, em nome de uns quaisquer 'padrões morais' que só podem arrepiar quem não se guia por cartilhas moralistas e pudibundas e respeita o valor fundamental da privacidade e da liberdade individual.


A este texto, fiz eu o seguinte comentário:

Ler, sff, o editorial de hoje do El País:
http://www.elpais.com/articulo/opinion/Abuso/poder/elpepuopi/20090607elpepiopi_2/Tes
Ou o texto de Juan Cruz: "Los periodistas estamos en medio, mirando a un lado y al otro; cuando el periodista publica un mensaje, siempre hay quienes ven el dedo y no la luna, o el sol; en este caso, muchos han visto en la publicación de las fotografías el dedo, y no el sol, o la luna; si lo pensamos bien, todos tenemos razones para pensar cuánta hipocresía hay en los que se escandalizan cuando ellos mismos mezclan lo privado con lo público como si la gente no tuviera derecho a saber qué hacen los políticos con el uso personal de sus prerrogativas públicas."

A este meu comentário, respondeu a Fernanda Câncio da seguinte forma:

a coisa voyerista
f.
nos comentários a
este post, um comentador chama atenção para o editorial do el pais de hoje e para uma análise no mesmo jornal sobre o caso berlusconi/fotos. nos dois textos, a justificação para a publicação das fotos (porque de justificação/defesa se trata) passa por coisas como a utilização que berlusconi faria, politicamente, da sua vida privada; as acusações feitas, publicamente (e politicamente também) pela sua mulher; o facto de berlusconi utilizar meios públicos (aviões do estado) para transportar pessoas para a sua casa da sardenha, onde foram tiradas as fotos em causa; o facto de os jornalistas, 'utilizados' por berlusconi para o promover através da vida privada, se sentirem como que legitimados a entrarem-lhe então pela vida privada adentro, tanto mais que é o próprio a afirmar que 'as fotos são inocentes'. como deve ser evidente para qualquer pessoa minimamente decente, não há um único argumento nestes dois textos que justifique a grosseira violação da privacidade que a publicação das fotos constitui. berlusconi usa a vida privada para se promover? é uma escolha dele. a vida privada é dele, usa-a como entender. não gostamos? criticamos; não votamos nele; ignoramo-lo. não nos sentimos legitimados para lhe pôr escutas em casa e câmaras no wc. não temos esse direito. não é o facto de a mulher dele fazer espectáculo com a vida privada dela e dele que legitima isto; não é o facto de berlusconi ser um sonso armado em moralista que manda tapar mamas de quadros ou vota contra a procriação assistida para agradar ao vaticano que nos dá o direito de lhe espiar o jardim.

há 12 anos, quando diana spencer morreu num despiste de um automóvel que fugia a paparazzi, toda a gente parecia estar de acordo: de algum modo, ela tinha morrido no altar do voyerismo e da violação da privacidade. ela tinha vivido disso? tinha, sim. tinha dançado essa dança, tinha jogado esse jogo. isso legitimou a perseguição desenfreada de que foi alvo e que acabou no túnel de alma (e continua, aliás, na publicação de livros, 'revelações', artigos, fotos)? não.

as fotos da casa de berlusconi foram publicadas na véspera das eleições. foram publicadas porque há mulheres em fio dental e topless (impressionante como fio dental e topless se tornaram sinónimo de 'orgias') e um homem nu (vão ali à praia do meco, any time, e vão ver quantos) e porque isso, na casa de um político, vende jornais. nada, mas absolutamente nada a não ser o mais reles voyerismo e o mais rasca mercantilismo e o mais abjecto populismo justificam a publicação destas fotos. o el pais não está sozinho nisto? pois não. é pena mas parece que quem está sozinho nisto são os que se opõem a esta barbárie e acham que não vale tudo. e quem está em maioria é gente que se acha no direito de entrar na casa dos outros, não porque lá se passem crimes, mas porque se passam coisas que vêem como 'atentados ao pudor', ou coisa que o valha. o que devia atentar ao pudor de toda a gente é que haja não só quem publique isto como ainda se dê ao despautério de o justificar em nome de uma ética jornalística. que vergonha.


Que, por fim, mereceu o meu seguinte comentário:

De André Gualter de Vasconcellos a 9 de Junho de 2009 às 10:30

Cara Fernanda:
Conforme se diz no editorial do El País:
- Berlusconi aprovou, contra todos os limites do bom senso ético e político, leyes ad hoc para que os vôos oficiais, pagos pelos contribuintes, pudessem transportar convidados particulares para as suas festas;
- A isto acresce que Berlusconi, e tal como denunciou a sua ex-mulher Verónica Lario, parece gostar de menores (coisa pouca, que a Fernanda, talvez por oportunismo, talvez por querer ser sempre do contra, talvez por qualquer outra razão, nem sequer menciona, fazendo confortável tábua rasa do assunto).
Agora a pergunta óbvia que me vai fazer: as meninas que lá estavam eram menores? Diga-me a Fernanda. Creio é que, se as acusações da ex mulher da coisa Berlusconi, têm algo de verdade, então a vida dessa coisa poderá e deverá (na minha opinião) ser escrutinada pela imprensa. Com mais moderação? Talvez. Sem tanta confusão mediática? Certamente. Mas, e isso a Fernanda saber certamente melhor do que eu, a forma como se dão a conhecer as notícias varia muito consoante o meio de comunicação em causa. Ou não?

Aguardam-se, ansiosamente, as cenas dos próximos capítulos.

Eleições Europeias XIII

"Segurança Laboral

Ontem estava optimista com os resultados eleitorais. Hoje, nem tanto. Ou melhor, estou preocupada. Quem será que garante a segurança dos nossos eurodeputados quando tiverem que trabalhar ao lado da Elena Basescu a quem chamam a "Paris Hilton romena", e da Barbara Matera, que já foi Miss Italia, e que dizem que é "refrescadoramente inexperiente" em assuntos políticos? Não consegui juntar fotos para comprovar os meus receios, mas parecem-me justos...:-)))"

(via Nortadas)


Não seja por isso (e publico, apenas, por crer serem do interesse público, pois que sempre acreditei que é útil conhecer a cara daqueles(as) que nos governam):



segunda-feira, 8 de junho de 2009

O regresso do bicho papão - II

Importa, portanto, instalar o pânico.

Ou maioria absoluta de um só partido, ou o caos.

Pensam V. Exas. que em cenários difíceis as coligações potenciam a qualidade dos governantes? Erro elementar.

A maioria absoluta de um só partido dá plenas garantias. Se o partido for grande - e só um grande partido merece uma maioria absoluta - qual o problema? Lá estarão as 11ª, 12ª, 13ª e 14ª linhas para se apresentar ao serviço do País.

Dirão uns quantos fanáticos que com uma maioria de um só partido apenas garante a possibilidade de cometer erros gigantescos durante 4 anos sem ninguém poder fiscalizar convenientemente. Más línguas e teoria da conspiração, é o que é.

O Bicho papão vai voltar

Preparem-se Portugueses. Estão lançadas as bases para o regresso do "bicho papão" eleitoral: a potencial falta de uma maioria absoluta de um só partido (seja ele qual for) nas próximas legislativas.

Bem se compreende que assim seja.

A história mostra-nos que os países que, em cricunstâncias normais, não têm maiorias absolutas, alguns décadas a fio (Itália, Bélgica, Dinamarca, Israel etc...) se tornaram miseráveis e nada há capaz de os retirar desse estado de indigência.

Ao invés, países de mais frequente maioria absoluta, como Portugal e a Grécia, têm mostrado ao mundo as maravilhas da estabilidade política. Aliás, o País sentiu na pele a estabilidade "da outra senhora" e ficou, pelos vistos, com vontade de repetir.

Além de termos - com governos de maioria de um só partido - taxas de crescimento económico capazes de fazer corar Angola, o Brasil e a China, são sempre tempos de grande estabilidade efectiva.

O País precisa muito de estabilidade. As pessoas participam em excesso; a sociedade civil pulula de paixão e fervor cívicos. O povo português é pouco submisso ao poder. O Estado não assusta, nem condiciona os empresários.

Sim, que fiscalização precisam os governos em Portugal? Nenhuma. As coisas correm naturalmente bem.

Haverá países em que a estabilidade governativa torna o crescimento raquítico, deteriora as relações entre o Estado e o País, atira os povos para um cinzentismo sem rasgo, nem novidade. Tudo bem. Mas cá é impossível.

É claro que podemos todos dizer: vamos lá ser realistas. Um dinamarquês é muito diferente de um português. Para além da chancela de La Palisse, esta afirmação tem agora apoio científico: há um gene que os distingue e que torna o português carente de maiorias de um só partido.

Será que também declara o salário mínimo?

"Património em empresas offshore

Loureiro sem bens para penhorar. Dias Loureiro não tem bens em seu nome que permitam o arresto provisório na investigação do caso BPN. O CM sabe que o ex-administrador da SLN – e braço-direito de Oliveira e Costa no banco – escapou à penhora, depois de os investigadores terem analisado minuciosamente o seu património. " (via http://www.correiodamanha.pt/)

Parece que os imóveis de Dias Loureiro estão registados em nome de familiares ou pertencem a sociedades sedeadas em paraísos fiscais e as contas bancárias que tem em seu nome possuem saldos médios que não ultrapassam os cinco mil euros.

Serei só eu?

Num tempo em que «tempo» é aquilo de que não dispomos, acaba-se muitas vezes por se desperdiçar energia vital na discussão daquilo que não é essencial.

Quanto a mim, face aos resultados eleitorais desta noite e à tendência (que o tem sido) dos últimos actos eleitorais, aquilo que considero realmente merecedor de destaque é o facto de a extrema-esquerda portuguesa colher nas urnas cerca 23,22% dos votos (correspondentes ao somatório percentual do BE, CDU, PCTP-MRPP, PH e POUS [este último, não resisto a comentá-lo, tem sistematicamente um número de votos inferior ao necessário para constituir um partido político!]).

Assim, muito mais relevante do que se ter comprovado que o Partido Socialista já entrou em fase descendente; que o CDS-PP, eleição após eleição, dá lições de 400% às sondagens mais conservadoras; que Manuela Ferreira Leite interrompeu o discurso de Paulo Portas quando este ainda mal tinha começado (terei sido só eu a reparar?), é o facto de haver uma preocupante escalada de uma esquerda radicalmente vocacionada para capitalizar os vulgarmente denominados "descontentes da crise".

Não gosto de dramatizar, mas é realmente dramático que, perante a obtenção de cerca de 1/4 dos votos por um conjunto de partidos que põem em causa o sistema económico e social que define a Europa em que vivemos e pela qual os nossos Pais lutaram, o único comentário que o facto merece dos analistas é a ultrapassagem do Partido Comunista pelo Bloco de Esquerda.

Serei só eu a achar tal aspecto perfeitamente irrelevante perante o facto de ambos aumentarem a votação em termos absolutos? O Partido Comunista [na sua versão travestida de azul e branco, a. k. a., CDU] viu o seu número de votantes aumentar de 309.406 para 379.292 [+ 69.886 votantes] e o Bloco de Esquerda de 167.279 para 381.791 (+ 214.512 votantes); serei só eu a achar que entre um e outro, com excepção da posição relativa que cada um ocupa, não houve, de facto, um perdedor?

Serei só eu a achar que é mais preocupante estes partidos não crescerem à custa um do outro, ou dos abstencionistas, mas sim à custa dos partidos do arco democrático?

Este resultado é definitivamente um cartão muito vermelho, não para as "políticas de direita" do Governo Socialista, mas para a democracia em geral, que não pode compactuar inerte com esta ascensão sem rever as causas que lhe estão na origem.

Impõe-se, assim, que a classe política com responsabilidades governativas (efectivas e potenciais) decida erigir definitivamente a política social e o combate ao desemprego não apenas como uma prioridade inequívoca da governação e da oposição, mas também como forma de reagir a este fortíssimo alerta eleitoral.

A quem não tiver sensibilidade social suficiente para acolher o repto, pergunto apenas se não prefere os tons rosa aos vermelhos. Eu, pessoalmente, acho mais airosos...

FMC

Eleições Europeias XII

No fim de contas: Durão Barroso parece ter garantido a reeleição.

Eleições Europeias XI

SIC Notícias: "Benfica acordou rescisão com Quique Flores."

Eu bem dizia, eu bem dizia...

domingo, 7 de junho de 2009

Eleições Europeias X

Notas importantes a reter, para futura reflexão:

- Pior resultado eleitoral do PS desde 1987.
Prenúncio para as legislativas?

- Pior resultado eleitoral do PS e PSD juntos desde 1985.
Sinal de descentralização do eleitorado? Cartão vermelho ao bloco central?

- Fazendo a comparação com as legislativas de 2005, o PS perdeu cerca de 20% e o PSD ganhou nem 3%.
Quem foram, afinal, os verdadeiros vencedores desta noite?

- Os votos brancos e nulos (mais de 6%) davam para eleger um eurodeputado.
Desilusão com a classe política em geral?

Eleições Europeias IX

Mais algumas notas:

  1. Paulo Rangel e Nuno Melo são dois políticos do Norte;
  2. Os resultados do distrito de Lisboa são um susto e no seu conjunto são relativamente parecidos com os do distrito de Beja;
  3. Os votos brancos e nulos rondam os 6,5%.

Eleições Europeias VIII

Que consequências internas decorrerão destas eleições?

Manuela Ferreira Leite confirma posição de líder no PSD (escolheu o candidato contra os seus vice-presidentes)?
Pedro Passos Coelho vem aproveitar o trabalho feito?
Governo mantém a sua actual estrutura (ministros e secretários de estado)?

Eleições Europeias VII

A regra na europa foi a vitória dos partidos liberais e conservadores e a derrota dos partidos socialistas.

A ideia (peregrina) de que a crise financeira fora culpa daqueles, pelos vistos, não convenceu os europeus.

Eleições Europeias VI

PCT + BE + PCTP/MRPP = 22,61 % (às 22:23).

Mesmo que não se repita nas legislativas, tornou-se evidente um dos vários resultados da centralização e da existência de uma vasta zona (Setúbal e Lisboa e Vale do Tejo) onde se concentra parte significativa da população em condições de (falta) de qualidade de vida e exclusão que explicam este resultado. O Alentejo, primeira (mas não única) vítima daquele centralismo ajuda à consolidação do efeito.

Agravam-se as distinções eleitorais entre o litoral e o interior, bem como entre o Norte e o Sul.

Tanta coisa e afinal

ganharam todos...

Estranho!

Eleições Europeias - V

Sentido de oportunidade.

"Já se abrem garrafas de champanhe na sede do PSD. Já se fumam charros na do BE."

(via http://31daarmada.blogs.sapo.pt/)

Eleições Europeias - IV

Perdeu-se um belíssimo deputado, lá para os lados de S. Bento (parte 2/2)


PS - E ganhou-se um verdadeiro vencedor de sondagens (tema a abordar mais tarde).

Eleições Europeias - III

Perdeu-se um belíssimo deputado, lá para os lados de S. Bento (parte 1/2)

Eleições Europeias - II

O grande derrotado da noite. Sobretudo, pela excessiva pessoalização da campanha.

Eleições Europeias - I

Primeira má notícia da noite: abstenção entre os 61% e os 65%. Nem o apelo do Presidente da República, nem apelo do Primeiro-Ministro foram suficientes.

Vergonhoso. Depois não se queixem.

A escolha é sua

O voto e a democracia participativa

De que adianta pedir uma democracia mais participativa, se nem sequer se vota?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Thomas Jefferson e o exercício do poder democrático

Disse Thomas Jefferson, 3º Presidente dos Estados Unidos da América membro da geração que foi, porventura, a mais esclarecida de políticos democráticos e reformistas: "When a man assumes a public trust, he should consider himself as public property".

Ocorrem-me mil e uma considerações, umas quantas recordações de um comportamento inverso àquele e bastantes comparações (a si não?).

No entanto, achei que se me dedicasse a glosar alguém como Thomas Jefferson só conseguiria, decerto, enfraquecer uma frase que é todo um universo de ética política e sentido de Estado.

Da abstenção entre o não-protesto e o anti-protesto

O País vive algum desencanto com a política, o qual, a meu ver, decorre mais da prática de boa parte dos seus actores, de vícios do sistema e de equívocos da Constituição, do que propriamente do nosso estado de alma enquanto povo. Quanto muito, este estado de alma adensa aquele desencanto.

Há, portanto, razões para o desencanto. O problema do desencanto é que nada cria, pelo que a reacção abstencionista permite apenas a cristalização dos nossos problemas.

Como estamos todos ainda muito ligados à noção do voto como exercício do poder pelo povo, o povo não sente vontade de votar porque bem sabe já ter votado muitas vezes sem ver a sua vontade minimente exercida, até pela forma como, em Portugal, as promessas eleitorais são descaradamente postas na gaveta.

A verdade é que quem exerce o poder são os políticos, pelo que o voto deve comunicar uma aposta, ou uma avaliação dos políticos e dos seus actos e a manifestação de uma vontade em ver determinadas medidas postas em prática.

Caso todos sejam avaliados negativamente e caso em nenhum se queira apostar, só o voto em branco traduz um comportamento cívico positivo de negação universal de todos os candidatos, de todos os partidos.

Claro que a abstenção, nos casos em que não é tristeza pura (muito mais difícil de gerir), é gira e popular, fica bem numa sessão de copos, por entre frases esclarecidas como "vou lá sair de casa por estes gajos" e que tais. Este raciocínio é o mesmo que define políticos incompetentes, que também não estão para muita coisa por nossa causa, ou por causa do País.

É um comportamento que quando não assenta em desespero traduz apenas desprezo pela comunidade e desleixo comportamental.

Por isso, o comportamento de parte significativa dos abstencionistas é apenas um comportamento pouco cívico, como cuspir para o chão, colar uma chiclete no banco do autocarro, ou calcar deliberadamente as flores de um jardim municipal.

Estivemos décadas a mais sem poder votar. Entre Manuel de Arriaga e Marcello Caetano, a sociedade civil viveu sempre num estado de compressão de que está ainda longe de se ter libertado.

Os abstencionistas são um dos obstáculos a essa transformação.

Há poucos gestos na vida (para quem é saudável) tão importantes como sair de casa e votar.

E já agora, uma provocação: quando for votar, esqueça o que os políticos lhe andaram a dizer e vote de acordo com aquilo em que acredita. É uma experiência como qualquer outra e como muitos abstencionistas não vão abandonar esse seu estado, vai perder apenas 4 ou 5 minutos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

(In)coerências

Ilda Figueiredo, a cabeça-de-lista da CDU às europeias, que, com um descaramento obsceno, atreveu-se a concorrer, simultaneamente, às autárquicas e às europeias (mas, quanto a isto, "cala-se, muito caladinha", como assinalou, com um tom algo provinciano, Edite Estrela), veio garantir que, assim que for eleita para o Parlamento Europeu, vai optar pelo actual salário-base, de quase € 4.000, ao invés do chamado "novo salário único europeu", que veio uniformizar o salário dos eurodeputados, e que ronda os € 7.500. Disse Ilda Figueiredo que não poderia deixar de agir de outra forma, uma vez que o PCP sempre se opôs à existência deste salário único, e que iria propor a revogação do novo estatuto. Apesar de tudo, é uma opção coerente. Séria, até.
O que já não é, de todo, coerente, Dra. Ilda Figueiredo, é que tenha a lata de afirmar que se for eleita em Gaia e em Bruxelas vai continuar a acumular funções. Já não há uma réstia de decência na política? Terá a Dra. Ilda Figueiredo o dom da ubiquidade, inacessível ao comum dos mortais, e que todos nós desconhecíamos? Crê ser capaz de desempenhar tão bem as suas funções estando ora em Gaia, ora em Bruxelas? Acha, Dra. Ilda Figueiredo, que somos todos lorpas?

E que dizer, já agora, de Miguel Portas? O eurodeputado do partido dos infindáveis sermões morais veio dizer que está de acordo com a uniformização do salário. Até aqui, nada a opor (ou quase nada...) O problema é que, e disto os mais distraídos já não se recordarão, este mesmo eurodeputado votou contra o valor estabelecido para salário único. Dois pesos e duas medidas? Vota-se contra, para parecer bem aos porreiraços do partido. Mas logo que o estatuto é aprovado, afinal, e pensando melhor, se calhar até nem é mau duplicar o salário. Enfim...

Tenham juízo! E alguma decência, já agora.

PS - A crítica do descaramento obsceno de se concorrer, simultaneamente, às autárquicas e às europeias, aplica-se, integralmente à Ana Gomes e à Elisa Ferreira. Decidam-se, senhoras eurodeputadas. Não queiram todos os tachos.
http://blasfemias.net/2009/06/03/o-charuto-aceso/#comments

"Zé do Aleixo disse:
ora… mais um blog de queques. mais uns “veigas” cheios de medalhas que ainda vivem no século xix. o norte e o porto não são nada do que estes anafados imaginam sentados à sombra duma camélia qualquer em nevogilde
. "

Caro Zé do Aleixo, muito me espanta tanta rapidez a distribuir juízos!”Queques”?”Anafados”?! Dada a juventude do blog, não se vislumbra o que possa já ter espicaçado tal complexo de inferioridade. Partindo do nome escolhido (Ze do Aleixo) e da primeira coisa que disse, imagino que seja do género de definir as pessoas com base no código postal a que pertencem (para além dos referidos preconceitos absurdos).

Ainda para mais, tal complexo surge acompanhado, como não poderia deixar de ser, pela suposição de que ser, mais do que os outros, parte do “povo”, arrogando-se conhecer ou mesmo personificar aquilo que é o norte e o Porto. Pelos vistos, o caro Zé do Aleixo afirma-se capaz de esclarecer, indubitavelmente numas poucas mãos-cheias de palavras, aquilo que é realmente “o norte e o Porto” de que apenas dizermos gostar – cá o esperamos. A sério, esperamos mesmo. Quem sabe, talvez andemos todos enganados (ainda que não se perceba como uns possam julgar ter mais legitimidade que outros). Ou por outro lado, presunção e água benta….

De qualquer forma, não deixo de agradecer a atenção. Seja bem-vindo!

P.S.: Fico então a aguardar que gentilmente me explique o que é “o norte e o porto”.

Para um Amigo

" (...) E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

As escolinhas

Bem sei!

Tantos assuntos interessantes para opinar, para desbravar e lá caí na tentação de escrever sobre a campanha eleitoral para o nosso Parlamento Europeu e sobre os seus candidatos. Faço-o, no entanto, com a esperança de que não terei de falar da UE.

Antes de mais, digo nosso Parlamento Europeu porque sinto que a UE tem vindo a debruçar-se, praticamente em exclusivo, sobre os temas que a sociedade Portuguesa vem discutindo há já algum tempo. Seja o caso BPN, seja o caso Freeport (uma conspiração), seja a avaliação dos professores em Portugal, seja a reforma no sistema de saúde, seja a escolha do próximo Provedor de Justiça, seja a contratação de Jorge Jesus pelo Benfica.

Só deste prisma, creio, se compreende que os candidatos que irão garantir o seu lugar no nosso Parlamento Europeu apenas falem sobre questões (nada) relevantes para o destino da UE.

De facto, esta campanha tem sido fértil em trazer mais do mesmo, ou seja, os candidatos falam muito, passeiam ainda mais, vão a feiras (independentemente de se realizarem no dia da visita ou não), mas dizem pouco. Muito pouco. Em bom rigor e infelizmente, nada de novo.

Ainda se chegou a falar de um qualquer imposto europeu. Por sorte foi um tema rapidamente abafado pela importância europeia do caso BPN e pelos critérios de avaliação dos professores.

Lamento, mas não sei quais os motivos que levaram alguns candidatos que têm garantido o lugar no nosso Parlamento Europeu a enveredarem por esta forma de estar e de fazer política. Estes até pareciam ir no bom caminho: reconhecido valor intelectual, provas dadas na sociedade civil, etc. Porém, rapidamente se converteram em máquinas de propaganda simples e sem conteúdo, onde os movimentos parecem (mal) encenados e sem correspondência com as palavras que proferem.

Outros, por outro lado, serão o resultado das escolinhas políticas que se enraizaram no nosso país. Escolas estas que têm o mérito de criar os melhores balões ideológicos da nossa sociedade e que vivem e se alimentam das suas próprias questões internas e onde o contorcionismo é a Cadeira chave.

Sim, a campanha eleitoral para o nosso Parlamento Europeu está a chegar ao fim. Resta-nos aguardar pelas, como sempre, comoventes e emocionantes eleições Autárquicas…

Enfim, e a Europa aqui tão perto…

Já agora, o Quique Flores sai ou não sai do Benfica? Aguardemos pelas eleições do próximo dia 7 de Junho.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A actualidade de Eça




Da necessidade do fim do nacional pragmatismo

Há em Portugal uma tendência para o concreto. Louvam-se as propostas concretas, as medidas concretas, as soluções para os problemas reais e é acertado que assim suceda. A questão é que as medidas concretas só resolvem os problemas reais se forem boas medidas. E para serem boas medidas não podem, ou não devem ser desgarradas, mas fazer parte de um plano para o País, de uma ideia do que se quer para Portugal. Quando assim não sucede, medidas ditas boas (também há, claro está, aquelas que são más, muito más, ou péssimas) chocam entre si na sua incoerência vazia de conteúdo. Um óptimo exemplo é a amálgama legislativa em que vivemos.

Aquela tendência produz um tipo ideológico - "os pragmáticos" - que não perdoam aos "outros" - os "dogmáticos" ou "doutrinários", como se ter dogmas, ou doutrina, impedisse a acção.

Daqui decorrem vários problemas: os pragmáticos, na sua febre do concreto, afastam-se do povo, que tende a deixar de votar. As opções esbatem-se, porque sem reflectir sobre o concreto, a realidade é mais ou menos na mesma, ou mesmo se dizendo das "propostas" apresentadas aos cidadãos. O poder autárquico, com excepção de um, ou outro bom exemplo, é disto sintomático.

Os pragmáticos são, por isso, os pais da abstenção.

Os pragmáticos são os paladinos do bloco central, são os que criticam a OTA, mas fizeram o Centro Cultural de Belém, sendo que os que queriam a OTA haviam atacado o CCB, são os que acabaram com a exigência na escola, são os que eliminaram a autoridade do professor e a substituiram pelo poder das direcções regionais, são os que apostam tudo em mais e mais autoestradas, que não nos conduzem a lado algum, mas que levam (alguns) pragmáticos ao poder.

Os pragmáticos não deixam os créditos por mãos alheias. Cuidam os partidos com carinho, como estruturas isoladas do mundo, em que tudo é combinado sem intervenção dos eleitores, mas apenas dos "militantes". É um mundo fechado, em que se premeia a habilidade para estar no partido mais do que na vida real, em que se valoriza a consistência, o caminho, a pedalada - tudo reportado ao partido. Os pragmáticos temem as eleições uninominais, que dizem gerar instabilidade e caciques. Como se as eleições que temos não gerassem caciques e não obtivessem mais do que uma instabilidade murcha, feita de um progresso raquítico.

Os pragmáticos gostam de atacar a Justiça, por tantas razões, que seria fastidioso sequer referir 10. No essencial, acham os magistrados pouco "pragmáticos", até porque andam em busca de uma coisa um tanto "abstracta" (o conceito-demónio dos pragmáticos) que é a Justiça.

Os pragmáticos detestam demissões, mesmo quando há escândalos. O povo acaba por esquecer e se nas eleições seguintes votar 40% em vez de 60%, os eleitos continuam a ser eleitos. Mais pragmático do que isto não pode haver. É que os pragmáticos, se são pais da abstenção, são irmãos do curto prazo.

Claro que há doutrinários neste País, em especial nas franjas da política. Muito à direita. Muito à esquerda. Tudo podem dizer e dizem muitas coisas. Têm um projecto, ao contrário dos pragmáticos. É, quase sempre, um mau projecto, cheio de erros históricos, incompreensão da natureza humana e demagogias sem fim. Do lado da direita não conseguem (e ainda bem) representação parlamentar, à esquerda sim (respeite-se).

Claro que nos partidos do centro democrático (esquerda, ou direita) não há só pragmáticos, mas são uma minoria, ou quando muito uma maioria silienciosa.

A seguir à revolução dos cravos, houve uma geração de doutrinários de centro e de direita. Que eram muito doutrinários e de uma direita moderada. Representavam a tradição liberal, conservadora e democrata-cristã que marca o essencial do êxito britânico, ou norte-americano, que recuperou a Alemanha das cinzas, que ajudou a Espanha a fazer a transição para a democracia - sempre com doutrina e vários dogmas.

Essa geração desapareceu e raramente existiu na historia portuguesa, sempre muito marcada por um confronto entre extremos. Veja-se o nosso século XX, em que transitamos de um regime carbonário directamente para um autoritário, sem qualquer experiência minimente democrática entre 1910 e 1974.

Sem doutrinários liberais e conservadores Portugal não pode sair de onde está. Não interessa qualificar onde está o País. Qualquer patriota sabe que não é um sítio bom. Porque os pragmáticos sabem o que querem fazer (e vão fazê-lo), mas não sabem para onde vão.

Significa isto que só os doutrinários liberais e conservadores fazem falta a Portugal. Claro que não. Sucede que uns geram outros, designadamente doutrinários de centro-esquerda, que os há, mas em número não bastante para encher dois ou três taxis.

Queremos mesmo 200 deputados não eleitos pelo povo? Que sistema eleitoral devemos ter? Deve ou não haver regionalização? Queremos promover a natalidade, ou combatê-la? Queremos uma educação rigorosa, ou um recreio onde se formem uns quantos pragmáticos? Queremos apostar nas empresas, ou fazer delas o bode expiatório? A culpa da crise e do mercado, ou daqueles que pagos pelos nossos impostos o não sabem regular? Queremos uma cultura da vida, ou uma cultura da morte? O rendimento mínimo garantido traduz o nosso conceito de Justiça e de progresso, a mensagem que queremos transmitir aos nossos filhos? Estamos, ou não dispostos a perseguir a corrupção como o grande mal nacional? Queremos - independentemente das convicções religiosas que se tenha - respeitar a Igreja Católica (e as demais), ou encostá-la a um canto na lógica jacobina? A família deve ser defendida, ou é um conceito reaccionário? Queremos ajudar todos por igual, ou só quem precisa e apostar quase tudo em ajudar muito quem precisa muito? É inadmissível que quem tenha um salário de € 500 (ou nenhum) não pague nos hospitais e quem ganhe € 10.000 pague um pouco (ainda que bem menos do que no privado)?
Ainda estamos precisados de mais autoestradas que ameaçam tornar-se na nossa alcatifa?

Estas são algumas das questões sobre as quais doutrinalmente se deve reflectir para poder actuar sobre o concreto de modo esclarecido e estratégico. E já agora, que se possa fazer reflexão doutrinal sem se cair nas franjas.

Uma certa esquerda (extremista, ou não necessariamente) aponta esta crise como o falhanço do mercado. É uma mentira despudorada. Falhanço, falhanço foi o do marxismo no século XX. Esta crise mostra, quando muito - e já é muito - o falhanço dos pragmáticos. De todos os pragmáticos. Os que andavam pelo mercado e os que supostamente os "regulavam".

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Charuto Aceso

Este blogue é nortenho. Os seus fundadores são do Norte e quase todos do Porto. Gostam do Norte e do Porto. Não gostam tanto do Norte e do Porto como gostam do País. Mas quase.

Neste blogue há liberais. Gente que preza a liberdade acima dos demais valores e que pensa mil vezes antes de admitir atropelos. Que entende que o Estado existe para ajudar a sociedade civil, mas não para a abafar. Que considera o ser humano, se regulado, capaz de resolver bem o essencial dos seus problemas. Que tolera e respeita as opções e preferências dos outros, sejam elas sexuais, religiosas ou quaisquer outras.

Neste blogue há conservadores. Gente que gosta da tradição. Não estática, porque a tradição quando é estática, desaparece. Gente que encara com humildade a natureza humana e que esta não deve ser trabalhada como um bocado de barro, ao sabor do voluntarismo de uns quantos iluminados.

Este blogue, para usar uma dicotomia bem usada por Miguel Esteves Cardoso há uns anos, poderá ser, aqui ou ali, radical, mas nunca extremista. Os extremistas (que são bem-vindos como comentadores) não querem compreender a realidade, nem mudá-la: querem destruí-la.

Marxistas, cá os receberemos com respeito e tolerância - mas também apenas para comentar. As discordâncias que nos separam do marxismo são profundas e resultarão claras pari pasu.

O mesmo se diga, mutatis mutandis, dos libertários, que, a nosso ver, defendem uma liberdade ébria. E a liberdade é boa demais para não a vivermos sóbrios.

Une-nos a vontade de pensar o País e o Mundo inspirados pelos valores da liberdade, de uma visão moderna da tradição, sem lutas de classes, assente no valor da pessoa humana e na sua capacidade para livremente perseguir a sua felicidade.

Gostamos de futebol, boa comida, bom vinho, de Eça e Camilo, de alguns requintes da vida burguesa, sem fechar a porta a um ou outro momento de requinte da vida popular. E, claro, de uma boa polémica.

Porquê Charuto Aceso? Charuto lembra boa vida, lembra Winston Churchill e com isso a vitória da liberdade, lembra o convívio, a tertúlia e uma boa refeição. Aceso porque queremos que a nossa visão tenha a chama de quem acredita que vale a pena pensar, falar, discutir, partilhar.


André Gualter de Vasconcellos
Filipe Machado e Costa
Francisco Castro Guedes
João Rodrigues Duarte
Rui Valente