Independentemente da cara-de-pau com que conseguiu anunciar a vitória, é impressionante o papel que jogam as máquinas mediática e partidária no efeito final da mensagem.
José Sócrates, há duas semanas, com a convicção das suas palavras, as celebrações dos militantes (!) encafuados nos autocarros à pressa para o Rato e o espalhafato da comunicação social, quase me fizeram acreditar que, de facto, o PS tinha ganho as eleições.
Ora, quando um partido que está no Governo perde, de um mandato para o outro, a maioria absoluta, cerca de 24 mandatos, e a possibilidade de (continuar a) governar à esquerda, afigura-se-me claro que nunca poderia ser considerado vencedor, mas simplesmente o partido mais votado.
Ainda assim, perante o discurso de vitória de Sócrates extraí as seguintes conclusões: 1) as artes dramáticas perderam um valor potencial; 2) o PS devia estar realmente com as piores perspectivas, para aquela gente toda conseguir ficar tão contente com o cenário descrito; 3) a derrota do PS não deve ser tão má como eu ajuizei.
Ontem, pelo contrário, perante o discurso de Manuela, a minha reacção foi a diametralmente oposta. Quando pensava que o PSD, apesar de tudo, se tinha aguentado no balanço, o tom depressivo com que a líder do partido interveio não poderia estar mais apropriado para um discurso de digna derrota, da qual acabei por me convencer.
Foram evidentes os truncamentos nas frases-chave deste género de intervenção: onde se disse que o PSD ganhou em número de câmaras e número de freguesias, saltou à vista a banhada que levaram em número de mandatos e em número de votos (quase um milhão de votos de diferença!).
Enfim, tudo concorreu para que reafirmasse o que já ando a dizer há algum tempo: o povo não gosta de maus actores!
Caro FMC:
ResponderEliminarSalvo erro, o PSD ficou com mais câmaras municipais do que em 2005, isto apesar de o PS ter tido, no cômputo global, mais votos.
Daí as diferentes interpretações escutadas ao longo da noite...