terça-feira, 9 de junho de 2009

Tertúlias jugulares

Fernanda Câncio escreveu o seguinte, no seu blogue Jugular:

a coisa de saramago
f.
josé saramago escreveu esta
coisa para o el pais. e pelos vistos acha-a tão admirável que a republica no dn.

berlusconi está, do meu ponto de vista, longe de ser um político admirável ou até uma pessoa recomendável. mas confundir juízos políticos ou éticos baseados em atitudes públicas e com relevo e interesse público com frases como 'uma coisa que dá festas, organiza orgias' ou 'acompanhante de menores' e ainda por cima fazê-lo em nome de 'valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi' é provar absoluto desconhecimento dos valores citados. ou, para usar um termo caro a saramago, delinquir. contra a liberdade, a dignidade e a ética, em nome de uns quaisquer 'padrões morais' que só podem arrepiar quem não se guia por cartilhas moralistas e pudibundas e respeita o valor fundamental da privacidade e da liberdade individual.


A este texto, fiz eu o seguinte comentário:

Ler, sff, o editorial de hoje do El País:
http://www.elpais.com/articulo/opinion/Abuso/poder/elpepuopi/20090607elpepiopi_2/Tes
Ou o texto de Juan Cruz: "Los periodistas estamos en medio, mirando a un lado y al otro; cuando el periodista publica un mensaje, siempre hay quienes ven el dedo y no la luna, o el sol; en este caso, muchos han visto en la publicación de las fotografías el dedo, y no el sol, o la luna; si lo pensamos bien, todos tenemos razones para pensar cuánta hipocresía hay en los que se escandalizan cuando ellos mismos mezclan lo privado con lo público como si la gente no tuviera derecho a saber qué hacen los políticos con el uso personal de sus prerrogativas públicas."

A este meu comentário, respondeu a Fernanda Câncio da seguinte forma:

a coisa voyerista
f.
nos comentários a
este post, um comentador chama atenção para o editorial do el pais de hoje e para uma análise no mesmo jornal sobre o caso berlusconi/fotos. nos dois textos, a justificação para a publicação das fotos (porque de justificação/defesa se trata) passa por coisas como a utilização que berlusconi faria, politicamente, da sua vida privada; as acusações feitas, publicamente (e politicamente também) pela sua mulher; o facto de berlusconi utilizar meios públicos (aviões do estado) para transportar pessoas para a sua casa da sardenha, onde foram tiradas as fotos em causa; o facto de os jornalistas, 'utilizados' por berlusconi para o promover através da vida privada, se sentirem como que legitimados a entrarem-lhe então pela vida privada adentro, tanto mais que é o próprio a afirmar que 'as fotos são inocentes'. como deve ser evidente para qualquer pessoa minimamente decente, não há um único argumento nestes dois textos que justifique a grosseira violação da privacidade que a publicação das fotos constitui. berlusconi usa a vida privada para se promover? é uma escolha dele. a vida privada é dele, usa-a como entender. não gostamos? criticamos; não votamos nele; ignoramo-lo. não nos sentimos legitimados para lhe pôr escutas em casa e câmaras no wc. não temos esse direito. não é o facto de a mulher dele fazer espectáculo com a vida privada dela e dele que legitima isto; não é o facto de berlusconi ser um sonso armado em moralista que manda tapar mamas de quadros ou vota contra a procriação assistida para agradar ao vaticano que nos dá o direito de lhe espiar o jardim.

há 12 anos, quando diana spencer morreu num despiste de um automóvel que fugia a paparazzi, toda a gente parecia estar de acordo: de algum modo, ela tinha morrido no altar do voyerismo e da violação da privacidade. ela tinha vivido disso? tinha, sim. tinha dançado essa dança, tinha jogado esse jogo. isso legitimou a perseguição desenfreada de que foi alvo e que acabou no túnel de alma (e continua, aliás, na publicação de livros, 'revelações', artigos, fotos)? não.

as fotos da casa de berlusconi foram publicadas na véspera das eleições. foram publicadas porque há mulheres em fio dental e topless (impressionante como fio dental e topless se tornaram sinónimo de 'orgias') e um homem nu (vão ali à praia do meco, any time, e vão ver quantos) e porque isso, na casa de um político, vende jornais. nada, mas absolutamente nada a não ser o mais reles voyerismo e o mais rasca mercantilismo e o mais abjecto populismo justificam a publicação destas fotos. o el pais não está sozinho nisto? pois não. é pena mas parece que quem está sozinho nisto são os que se opõem a esta barbárie e acham que não vale tudo. e quem está em maioria é gente que se acha no direito de entrar na casa dos outros, não porque lá se passem crimes, mas porque se passam coisas que vêem como 'atentados ao pudor', ou coisa que o valha. o que devia atentar ao pudor de toda a gente é que haja não só quem publique isto como ainda se dê ao despautério de o justificar em nome de uma ética jornalística. que vergonha.


Que, por fim, mereceu o meu seguinte comentário:

De André Gualter de Vasconcellos a 9 de Junho de 2009 às 10:30

Cara Fernanda:
Conforme se diz no editorial do El País:
- Berlusconi aprovou, contra todos os limites do bom senso ético e político, leyes ad hoc para que os vôos oficiais, pagos pelos contribuintes, pudessem transportar convidados particulares para as suas festas;
- A isto acresce que Berlusconi, e tal como denunciou a sua ex-mulher Verónica Lario, parece gostar de menores (coisa pouca, que a Fernanda, talvez por oportunismo, talvez por querer ser sempre do contra, talvez por qualquer outra razão, nem sequer menciona, fazendo confortável tábua rasa do assunto).
Agora a pergunta óbvia que me vai fazer: as meninas que lá estavam eram menores? Diga-me a Fernanda. Creio é que, se as acusações da ex mulher da coisa Berlusconi, têm algo de verdade, então a vida dessa coisa poderá e deverá (na minha opinião) ser escrutinada pela imprensa. Com mais moderação? Talvez. Sem tanta confusão mediática? Certamente. Mas, e isso a Fernanda saber certamente melhor do que eu, a forma como se dão a conhecer as notícias varia muito consoante o meio de comunicação em causa. Ou não?

Aguardam-se, ansiosamente, as cenas dos próximos capítulos.

5 comentários:

  1. Soube há pouco que Berlusconi declarou, fora da mansão da Sardenha, que com «ragazzas» tão belas em Itália, era muito díficil reduzir as violações...
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  2. O que me admira é a paciência do André em tercer armas com a D. Câncio.

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  3. Meu caro:
    Perder tempo com menoridades desse e deste jaez é inaceitável. Fernanda Câncio é um daqueles casos em que poderemos, com toda a propriedade, dizer: já dei para esse peditório!

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  4. já agora: vou deixar de comentar aqui. identifico-me e ainda sou obrigado a transcrever meia dúzia de caracteres idiotas, ora em itálico, ora em minúsculas/maiúsculas. ainda digo um palavrão...

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  5. Jorge, a possibilidade de "spam" nos comentários obriga a este tipo de "exigências"...

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