quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tempos de bizarria

Se há temas que deviam ser "fracturantes" (citando a expressão desse grande pensador do PS e da JS, Sérgio Sousa Pinto de sua graça), esses temas são os da independência da magistratura e da transparência e liberdade da comunicação social.

A magistratura vem sendo atacada sem quartel desde há longos e bons. Pretensamente, o grande problema nacional é a Justiça. Se sim, isso deve-se essencialmente ao poder político e residualmente aos magistrados.

Dizem os políticos que os magistrados trabalham pouco. Por referência a quem? Aos políticos?

Dizem os políticos que os Juízes tinham muitas férias. Por referência a quem? Aos políticos?

Que despesas de representação têm os Juízes? Em que carros andam? Quais as facilidades que têm para faltar ao trabalho? Há falta de quorum em algum tribunal?

Não brinquem comigo. Ando pelos tribunais e bem sei que os juízes são imperfeitos, como os advogados, os funcionários e os cidadãos que lá andam.

Sucede que nenhum juiz chegou a juiz depois de trilhar uma vida de mera progressão entre concelhias e distritais, percurso e curriculum que sabemos ser o de muito boa gente que nos fala na televisão a falar na posição "corporativa" dos juízes.

É que, caros leitores, como se viu na questão da lei do financiamento dos partidos , os políticos são tão ou mais corporativos que as demais pessoas...

A magistratura e a independência da magistratura (ou das magistraturas) é um pilar da democracia e assim tal como a conhecemos, com auto-governo, com maioria de juízes no Conselho Superior da Magistratura. Quando assim não for, benzam-se, compatriotas, benzam-se...

Tirando isto, restam as cantigas de que há juízes "pidescos" e outros "arrogantes". Claro que, como soe dizer-se em ditos de grande sabedoria popular, "isto há de tudo" pelo que essa temática é pura conversa de café. Há taxistas que conduzem mal, há jogadores que não fazem um remate de jeito, há pasteleiros que põem mais 350 gramas de farinha nos croissants do que eles deviam ter, há lixeiros que deixam um papel de rebuçado por apanhar e há funcionários públicos muito arrogantes na forma como falam com as pessoas. Pois há. E tirando a relevância própria do livro de reclamações, o que é que isso interessa enquanto tema de fundo?

Depois temos a comunicação social, que não tem nada de ser independente (como por exemplo já deve suceder com as empresas de sondagem). Essa ideia da objectividade da informação é irrealista e seria assustadora uma sua consumação prática.

A ideia de um ser humano capaz de relatar o que quer que seja despojando-se de si mesmo é, aliás, uma ideia macabra, traduzindo uma frieza de sangue capaz de humilhar o réptil mais cruel e distante.

Se calhar por isso, grande parte dos jornalistas deixam, sem querer, perceber em quem votam ao fim de 3 ou 4 perguntas que fazem, ou no olhar que desnudam ao dar determinada notícia...

O que é verdadeiramente importante na segurança social é que seja transparente e livre. Claro que um jornal pode informar e ser "pró-Primeiro-Ministro"; claro que pode informar e ser "anti-Primeiro-Ministro".

O leitor mais sectário, lê o seu. O leitor menos sectário, entrega-se na dialéctica de ler um de cada. A grande maioria - fruto do hábito, ou do desinteresse - tratará de ler o jornal desportivo (que aliás só faz bem à alma, se não substitutivo dos demais).

Seria fantástico se cada órgão de comunicação social dissesse ao que vai. Nada mais faria do que portar-se como o patriota, que diz a um estrangeiro: "vou tentar descrever o meu País e vou tentar fazê-lo com toda a seriedade, mas não repares se se notar alguma simpatia"...

Seria ainda mais fantástico a importância de defender sempre, hoje e no futuro, a liberdade de todos os órgãos de comunicação social. Contra ventos e marés. Não podemos deixar que esta temática não seja "fracturante" e urgente.

O caso Watergate é um exemplo óbvio meu, não é? Deixem lá, os exemplos óbvios por alguma razão o são.

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