segunda-feira, 22 de junho de 2009

A vossa benção, meus amigos (continuação)

e do Plano Marshall, serem prova de que a terapia tem que ser de choque para acordar o morto. Mas, en passant, esquecem-se de coisas de somenos como a própria utilidade intrínseca da obra e o seu impacto ambiental.

Quando se é um leigo nestas coisas, mas, por outro lado, se está despido de preconceitos (o que, confesso, não é o meu caso), é legítimo, do ponto de vista da análise política e económica, pensar na base de presunções, se estas forem tão óbvias que até uma criança seria capaz de as compreender. E, portanto, se numa onda de lançamento de obras públicas se inclui uma auto-estrada cuja inutilidade está à vista de todos, inverte-se a presunção de interesse público da actuação geral do Governo nessa área, não no sentido de este ter de provar a utilidade das obras, tirando-as assim de uma espécie de limbo, mas sim de demonstrar que não são inúteis. A diferença é subtil, mas faz toda a diferença! Em contraponto, parece-me que tal já não sucederia se o Governo viesse criar um plano nacional (sobre os planos municipais já existentes) de reabilitação e revitalização dos centros históricos das grandes cidades, nomeadamente Lisboa e Porto. A utilidade da medida estaria à vista, bastando percorrer a Ribeira e a Baixa e imaginar toda aquela zona com os edifícios recuperados e depois voar para Praga e ver o que faz a reabilitação. No plano dos interesses em jogo, teria a virtualidade de, ao menos, ser potencialmente repartível por uma miríade de empresas e agentes económicos, contendo o clientelismo em limites aceitáveis (neste país, a que mais podemos ambicionar?).

É por isso que o Manifesto dos Economistas é tão importante: ele fere de morte o voluntarismo do Governo com a estocada da imparcialidade e autoridade dos seus autores, de que não usufruem as oposições partidárias. Estas são forças de "bloqueio" e aqueles movem-se, decerto, pelo interesse do país. Estas perseguem a meta de serem Governo (ou, tão-só, de sobreviverem) e, nesse seu caminho, lançam-se amiúde por atalhos menos recomendáveis, enquanto que aqueles parecem nada ter a lucrar individualmente com a posição assumida. Por fim, a estas falta-lhes o rigor científico, enquanto que aqueles parecem tê-lo na justa medida.

Este Manifesto é, por isso, um novo exemplo daquilo que falta em Portugal: a voz de uma opinião pública esclarecida, rigorosa, atenta, influente, desinteressada e não exposta à "mediação" do "quarto poder". Aquilo que, a par da verdadeira separação de poderes, marca a diferença entre as democracias de iure e de facto das meramente formais, como a nossa.

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