sexta-feira, 19 de junho de 2009

Garcia Pereira - muita uva e pouca parra

Há muitos anos que discordo de Garcia Pereira. Por muitas e naturais razões. Quase todas decorrentes do facto de ele ser marxista e de eu não me rever de modo algum no marxismo.

Mas isso serve aqui apenas de introdução.

Garcia Pereira é um homem que está muito à esquerda. Está à esquerda do PS, mais ao menos naquela zona onde se encontram plantados o PCP e o BE.

Ao contrário do BE e do PCP que não têm uma visão para o País, o PCTP/MRPP (graças a Garcia Pereira) tem essa visão. Garcia Pereira raramente é demagógico, ao contrário do que sucede quase sempre com o BE e algumas vezes com o PCP.

Garcia Pereira pensa pela própria cabeça e nunca diz aquilo que os outros querem ouvir. Ao contrário do BE e do PCP (mais aquele do que este) que querem ser megafone do que uma parte da população diz e quer, Garcia Pereira fala daquilo que acha correcto e com o que gostaria que as pessoas concordassem.

Garcia Pereira, sendo um comunista, teve uma participação extraordinária na Ordem dos Advogados, é capaz de elogiar Freitas do Amaral, ou de defender a linha do TGV Sines-Lisboa-Porto-Coruña-Hendaye. Não são exemplos do que está bem, ou está mal, do que merece, ou não ser elogiado. São só exemplos de quem anda a pensar nas coisas de modo descomplexado. Pode ser diferente do meu e chegar a resultado diferente (e mesmo isso nem sempre).

Porquê, então, a sua falta de êxito?

Porque ao contrário do que uns quantos deslumbrados liricamente imaginam, a vertigem do populismo sacode com a mesma facilidade e intensidade a direita e a esquerda e o BE e o PCP são muito populistas, enquanto que o PCTP/MRPP, por causa de Garcia Pereira, é um dos nossos partidos menos populistas.

Os populismos de esquerda são fenómenos tão nefastos quanto os de direita, mas gozam do beneplácito do senso comum. A tragédia que foi a Revolução Francesa ainda é apresentada como uma vitória da liberdade, o que é, no mínimo dos mínimos, discutível, em detrimento da Revolução Americana, em que uma controvérsia a esse respeito é bem mais forçada. Basta comparar o "sentido democrático" de Robespierre e Marat e compará-lo com o de Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, ou John Adams e estamos conversados...

Poderia também falar aqui do Maio de 1968 e de todo o mal que fez à Europa, mas deixo esse tema para outro dia.

Hoje queria deixar esta nota porque pasmo como é que PCP e BE têm, em conjunto, mais de 20% dos votos e o PCTP/MRPP apenas 1,5%.

O estilo pouco folclórico, mais denso, menos dado a chavões, prejudica certamente o PCTP/MRPP.

Boa parte dos seus votantes hão-de ser outros Garcias Pereiras de esquerda, ou extrema-esquerda...

Mas, insisto, o que mais o afecta é o facto de pensar pela própria cabeça. O facto de não andar à procura de ideias e movimentos originais aqui, ou ali e depois ficar a babar com o que encontra e passar a vida a atirar à cara dos outros aquilo que não pensou per se.

Isso dá a Garcia Pereira e ao PCTP/MRPP uma consistência que faz com que se dedique a causas importantes para a generalidade das pessoas, mais do que a causas de "engate eleitoral".

Jamais votaria neste partido.

Mas curiosamente, não posso deixar de sugerir vivamente aos votantes do BE e do PCP que ponderem votar em Garcia Pereira.

2 comentários:

  1. Socorro, o menino pouco o nada sabe de História Contemporânea. Mas arrogância não lhe falta... Quanto aos preconceitos exibidos, cada um tem e exibe os que quer.(virtudes do Maio de 68, Coimbra 69 e não só) Esclareço: sou mais anticomunista que três dezenas de meninos iguais a si...

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  2. Julgas que me convences? Dizes isso porque o dito cujo é laboralista :-) Se fosse boavisteiro estavas a dizer que ele foi S. Francisco na outra encarnação? Meu amigo, não deixes que o teu coração turve a tua mente! Agora a sério: o gajo é o maior. Ao pé do Louçã, parece Santo António e o peixe!

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