sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Orçamento rectificativo: falar com rigor

Para mal de todos nós e por ironia do destino, estes governantes que tanto falaram do défice do governo PSD-CDS acumulam recordes: de desemprego, de despesa pública, de défice...

A culpa é da crise - dizem eles - e da predominância de maus governos PS nos miseráveis anos situados entre 1999 e 2009 (7 em 10 anos) - acrescentamos nós. A tal década perdida, como referiu cruamente Hernâni Lopes.

Ao menos temos ministros rigorosos no governo como o tão afanosamente elogiado Teixeira dos Santos e o conjunto maravilhoso de êxitos que colecciona no cargo. Nós não os vemos, mas há quem diga que existem. São, assim, uma espécie de OVNIS governativos.

Como se não bastasse, fala com rigor e não é pessoa para eufemismos, nem golpes cosméticos nas desgraças.

Bem sei que há vozes - energúmenas e reaccionárias, bien entendu - que dizem que chamar ao orçamento "redistributivo", rectius "distributivo" é uma forma envergonhada para dizer "orçamento rectificativo", lançando mão de subterfúgios da melhor propaganda política e engenharia de linguagem.

Que horror... Ao que chegam as más línguas...

Só de má fé se consegue não ver que este é genuinamente um "orçamento distributivo" (o terceiro do ano, de resto...).

Desde logo, é um documento que vai ser "distribuído" (ou mesmo redistribuído) pelos vários partidos, pelos jornais e depois pelos diversos ministérios e secretarias de Estado.

Em segundo lugar, é um orçamento que promete "distribuir" (ou até redistribuir) dívida por várias gerações de portugueses e impostos em todas as casas e empresas.

Em terceiro lugar, no universo total de empresas que acabarão por sofrer com as medidas nele contidas encontram-se, como é sabido, as empresas de "distribuição" (que no fundo redistribuem produtos pelos consumidores).

Estas três razões parecem-me mais do que bastantes para demonstrar, ad nauseam, a genuinidade da expressão a que o governo recorreu.

Aliás, a substituição de conceitos deveria ser universal.

Se a casa estiver mal pintada, chama-se o pintor para "distribuir" (ou redistribuir) a pintura.

A passagem do rascunho para a versão final, eliminando gralhas e repetições, passará a chamar-se "distribuição" (para não dizer redistribuição).

Nas universidades de Direito passará a dizer-se e ensinar-se que o erro manifesto que se retira do contexto em que a declaração é emitida apenas dá direito à sua "distribuição" (ou, porque não? redistribuição).

O fornecedor passará a telefonar ao cliente a dizer que pede desculpa, mas que se enganou nos preços fornecidos na véspera e que gostaria de "distribuir", quiçá mesmo redistribuir, a informação antes prestada.

E, aqui entre nós que ninguém nos ouve, aqueles incapazes que julgam que não temos o melhor governo que alguma vez assentou arraiais nas alfacinhas paragens, que abram os olhos e, por favor, que "distribuam" ou mesmo redistribuam quanto antes a sua análise...

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