quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Um lugar difícil

Dirigir a "Selecção" de Portugal não é tarefa fácil.

Já tivemos 4 seleccionadores ao mesmo tempo, para agradar aos clubes, lembram-se?

Seleccionador com ligação, ou simpatia do Benfica tende a ser maldito no Norte e se tiver ligação ou simpatia do FC Porto, tende a ser maldito no Sul.

Essa é uma primeira dificuldade.

Depois, as outras equipas também gostam - nós é que as vezes nos esquecemos - de estar presentes nas fases finais e outras fazem do futebol um espaço de afirmação de patriotismo.

É normal, é humano e é uma segunda dificuldade.

Além disso, temos a carga do fado no ADN que faz do Português padrão um adepto muito problemático, sempre entre a euforia e a tragédia grega.

É uma terceira dificuldade.

Acresce que todos os povos sabem muito de futebol e treinam muito desde a bancada. Mas os portugueses acham sempre que sabem mais do que os outros. Se quanto à governação é raro o dia em não concorde com eles, já no futebol tenho as minhas dúvidas, porque quem dera que a nossa governação fosse tão bem sucedida quanto o nosso futebol.

Este elevado grau de sapiência futebolística do povo português (sempre a tocar no prémio Nobel da coisa) é uma quarta dificuldade.

Por outro lado, há muitos portugueses (não eu, desde já advirto) que dizem que a Selecção vem atrás dos seus clubes "do coração". Alguns são meus amigos e outros meus parentes. Não me conformo que o digam, ainda que seja treta em 98% dos casos e traduza uma técnica para reduzir o sofrimento em torno da equipa nacional. Todos sabemos que um título nacional, seja no campeonato da Europa, seja no Campeonato do Mundo teria, na Invicta, festejos muito maiores, em quantidade e em qualidade do que qualquer Liga dos Campeões ganha pelo FC Porto. Só quem conhece mal esta cidade é que se pode ingenuamente convencer de coisa distinta. Mas enfim, mesmo que fingida, é uma quinta dificuldade, porque é uma simulação muito exteriorizada e por vezes assaz barulhenta.

O Seleccionador tem de aturar os clubes - os internos e os externos - uma sexta dificuldade, os dirigentes federativos (uma sétima) e as dificuldades de só estar com a equipa periodicamente (a oitava).

De todas, só gosto na Nona, que agora apresento. É este nosso inconformismo de ainda querermos ser grandes, de que chegamos para o mundo todo, de que não nos resignamos aos que (cá dentro) sempre trabalharam para nos fazer pequeninos, longe do atlântico, muito submissozinhos à Europa, muito mendigozitos de uma pseudo-modernidade, de termos mais olhos do que barriga sem ser na porcaria-das-obras-públicas-faraónicas, de sabermos que os PALOP's gostam muito mais de nós do que os outros africanos dos ingleses, dos franceses, dos espanhóis, dos alemães e dos italianos, que o Brasil é parte de nós e nós do Brasil, de ter feito barulho em Timor até se conseguir corrigir as tragédias que os PREC's semearam quando nos pretenderam transformar na Albânia da península ibérica, de sermos enquanto Pátria e enquanto povo muito, muito mais do que todas as faces ocultas, as casas pias, os freeports e assuntos quejandos.

Naquele remate de Raul Meireles há um enorme e valente pontapé na falta de grandeza com que tanto temos de lidar nessa nossa terra, pequenez com a qual vivemos, mas que, cá dentro, no fundo, tanto nos repugna, porque a nossa alma é "de outro campeonato".

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